segunda-feira, 26 de maio de 2008

As propostas de leitura para o próximo mês

- 1808, de Laurentino Gomes
Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de Portugal ou de qualquer outro país europeu. Em tempo de guerra, reis e rainhas tinham sido destronados ou obrigados a refugiar-se em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido tão longe, a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colónias imensas em diversos continentes, até àquele momento nenhum rei tinha posto os pés nos seus territórios ultramarinos para uma simples visita – muito menos para ali morar e governar. Era, portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os portugueses, que se achavam na condição de órfãos da sua monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros, habituados até então a serem tratados como uma simples colónia de Portugal.

- Canário, de Rodrigo Guedes de Carvalho
Confia nas grades. Aproxima-te. Vou-te contar. Vá lá, aproxima-te, leitor. E tu, leitora. Não tenhas medo. Estou preso vai para três anos. Não vês as grades? Não te consigo tocar. Receias sequer olhar-me? Então escuta só, vou contar-te do escritor conceituado. Soube agora que sou seu filho. Não se lembra sequer da minha mãe, não sabia de mim. Recompôs-se, aceita-me, vem-me buscar. Vai-me conseguir a liberdade. É famoso, influente, já viste a minha sorte? Se me ouvires, vais saber que a mulher dele nem sonha que existo, vais ver o neto autista que ele finge não ver. Mais o padre que se dedicou a mim na prisão, que acredita que ainda vou a tempo, que jurou que não me deixa apodrecer aqui. O padre que me perdoa o crime horrível. Sim, o crime. Mas não te assustes. Não te afastes agora. Confia nas grades. Aproxima-te. Vou-te contar.

- Alves Reis - Uma história Portuguesa, de Fracisco Teixeira da Mota, Oficina do Livro
Artur Virgilio Alves Reis nasceu em 1898 e é considerado unanimemente o maior burlão português. Afinal, foi ele o maior cabecilha da falsificação de notas de banco de sempre, decorria então o ano de 1925. A história de uma figura ímpar, um colosso de imaginação que se valeu disso para sucessivos golpes ao longo da vida.

- Corpo Presente / The Gathering, de Anne Enright
Anne Enright é considerada actualmente uma das vozes irlandesas mais singulares, ombreando com os melhores romancistas contemporâneos. Ao reconstituir o fio de uma traição e redenção através das gerações, este livro mostra como as recordações se transfiguram e os segredos inquinam. Com uma inteligência notável, Anne Enright dá-nos uma perspectiva nova e inesquecível do mundo. Anne Enright nasceu em Dublin em 1962. Publicou uma colectânea de contos, com o título The Portable Virgin, galardoada com o Prémio Rooney. Para além do presente romance, vencedor do Prémio Man Booker, é também autora dos romances The Wig My Father Wore, finalista do Prémio Irish Times/Aer Lingus Irish Literature; What Are You Like?, vencedor do Prémio The Royal Society of Authors Encore e The Pleasure of Eliza Lynch Anne Enright escreveu um livro poderoso, inconveniente e, por vezes, irado. Corpo Presente é um olhar impiedoso sobre uma família enlutada, transmitido numa linguagem franca e surpreendente.

- Exploradores do Abismo, de Enrique Vila-Matas
Perguntaram um dia a Enrique Vila-Matas o que estava a escrever. O escritor vivia, depois de Doutor Pasavento, numa permanente sensação de caminho fechado, pois sentia que tinha chegado ao fim de um certo percurso e perante ele se abria um abismo. «Estou a escrever o título de um livro», respondeu ele. O título era Os Exploradores do Abismo. Nos dias seguintes começou a surgir uma série de histórias relacionadas com o que esse título sugeria. Todo o livro é a exploração desse abismo. E, como o próprio título indica, trata-se de histórias protagonizadas por seres que se encontram à beira do precipício, seres que aí se equilibram e estudam, investigam, analisam o abismo. Os exploradores são, obviamente, uma metáfora da condição humana. São optimistas e as suas histórias, em geral são as de pessoas normais que, quando se vêem à beira do abismo, adoptam a posição de um expedicionário e sondam o horizonte, indagando o que pode haver fora de aqui, ou mais além dos nossos limites. São pessoas não especialmente modernas, pois em geral desdenham do fastio existencial tão em voga. É gente antiquada e muito activa que mantém uma relação desinibida e directa com o vazio. Por vezes, esse vazio é o centro da história, enquanto que noutros casos o abismo é apenas um bom pretexto para escrever um conto. Na realidade, os contos deste livro procuram pontes num admirável abismo, pacientemente explorado em todas as direcções possíveis por histórias subtilmente interligadas. No final estamos sem dúvida menos perdidos que no princípio, mas também mais próximos de um novo precipício.

- Património, de Philip Roth.
Património, uma história verdadeira que toca nas emoções ainda com mais profundidade do que qualquer outra obra do autor. Roth assiste à batalha que o seu pai – famoso pelo seu vigor, charme e pelo seu repertório de recordações de Newark – trava com o tumor cerebral que o irá matar. O filho, repleto de amor, ansiedade e medo, acompanha-o em cada atemorizante estádio da sua provação final e, ao fazê-lo, revela o apego à vida que marcou o compromisso longo e teimoso do seu pai com a vida. “Uma história verdadeira, sim, mas contada com toda a poderosa autoridade e perspicaz ordem narrativa de um escritor maior.”- Sunday Times De um dos mais importantes escritores americanos da actualidade. Romance vencedor do National Book Critics Circle Award de 1991.

- O Regresso, de Bernard Schlink
A viver com a mãe na Alemanha do pós-guerra, o pequeno Peter passa as férias de Verão em casa dos avós, na Suíça. Responsáveis pela edição de uma colecção de livros, os avós dão ao neto o papel usado nas provas, em cujo verso ele pode escrever mas cujas histórias está proibido de ler. Um dia, Peter desobedece e descobre o relato de um prisioneiro de guerra alemão que, após ter enfrentado inúmeros perigos para fugir aos seus captores e regressar a casa, descobre que, durante a sua ausência, a mulher constituíra uma nova família. Mas Peter já tinha usado as páginas finais para fazer os trabalhos de casa e fica sem saber como termina a aventura. Anos depois, já adulto, decide procurar as páginas desaparecidas; uma busca que se altera por completo quando descobre que o seu pai, um soldado alemão que ele sempre acreditou ter morrido na guerra, pode ainda estar vivo. Sob o encantamento da sua própria história de amor, e à medida que começa a deslindar o mistério do desaparecimento do pai, Peter vê-se obrigado a questionar a sua própria identidade e a enfrentar o facto de a realidade ser, por vezes, um reflexo das expectativas dos outros.

- A Fenda / The Cleft, de Doris Lessing
Imagine uma comunidade pré-histórica exclusivamente constituída por mulheres, que não conhecem homens nem deles têm necessidade, e que funciona de forma quase idílica. Imagine agora tudo o que poderá implicar para esta tribo o nascimento de uma criatura estranha: um bebé do sexo masculino. Esta é a premissa de que Doris Lessing parte para reflectir sobre um dos temas que mais a inspiraram ao longo da sua carreira: as relações entre ambos os sexos e como afectam toda a nossa vida. Com este livro, porém, Doris Lessing vai ainda mais longe, ao fazer também um retrato de uma beleza desconcertante da natureza simultaneamente transitória e imutável dos seres humanos, com os sentimentos de ambição, vulnerabilidade e incompletude que a caracterizam.

Após um empate técnico entre A Fenda, Património e O Regresso, acabou por ganhar...
A Fenda/The Cleft, de Doris Lessing.
Depois de Paul Auster, mais uma autora tem a honra de voltar a ser escolhida como nossa leitura do mês (o que é o Prémio Nobel ao pé disto? :-) .

3 comentários:

Anónimo disse...

E o P?
A.

CF disse...

Chiça, que críptica!
Estive um bom bocado a ver do que se tratava!
O Persépolis ficará para próxima leitura, se conseguir arranjar uns dois ou três exemplares em Português, para as meninas que não lêem nem em Inglês nem em Francês.

Anónimo disse...

Só foram 10 minutos :P
Não queria estragar o que poderia ser ainda uma surpresa...
A.