sábado, 7 de junho de 2008

Sobre o orgulho nacional

Sempre fomos um povo deprimido, muito dado à auto-crítica arrasadora. Assim continuamos. Mas, em paralelo, e sem que tal constitua um paradoxo de maior, também temos vindo a desenvolver nos últimos anos um orgulho nacional feroz e combativo.
Penso que terá começado em 1998, por altura da Expo, quando nos apercebemos que afinal até éramos capazes de organizar um grande evento internacional sem meter muita água. Esse sentimento foi confirmado pela bem sucedida organização do Euro 2004. Claro que nos esquecemos que ainda estamos a pagar essas contas, que temos o país pejado de enormes e luxuosos estádios de futebol e as nossas escolas, hospitais e afins continuam tão maus como sempre.
Depois, durante o Euro 2004, o nosso seleccionador (que por acaso até é brasileiro) apelou a que todos manifestássemos o nosso apoio à selecção colocando a bandeira nacional nas nossas janelas. Nunca pensei que colasse. Sempre pensei que isso era o tipo de coisa que só os americanos, com o seu incondicional e naïf orgulho nacional conseguiriam fazer. Enganei-me. No espaço de uma semana tínhamos o país inteiro coberto de verde e vermelho. Era impressionante ver ruas inteiras cobertas de bandeiras, prédios enormes onde em todas as janelas se lia o orgulho no nosso país.
Na altura achei o máximo! Mas depois acabou o Euro, passaram as semanas, e algumas (muitas) bandeiras lá continuavam, já meio esfarrapadas, já meio descoloradas. Aí comecei a achar que era um pouco excessivo.
Agora, com o início do Euro 2008, tudo parece estar a começar de novo.
Não me sinto confortável com grandes demonstrações de orgulho nacional. Sempre senti que o patriotismo não é apenas um sentimento de pertença, mas de estar contra. Não é apenas inclusivo, mas antes de mais exclusivo. És tu e os teus compatriotas contra o resto do mundo. Eu não quero estar contra o resto do mundo. Também não quero estar com todo um grupo de pessoas que podem ou não merecer essa comunhão. Prefiro escolher as minhas lealdades, sem ter em conta algo de tão arbitrário como o nome do país impresso no passaporte.
Mas isto sou eu…

Sem comentários: