Este é simultaneamente um lugar de letras e um lugar de chá, embora só exista no plano da ficção:
Porém, se Seis ficara fascinada com a fachada da loja, o interior encantou-a mais. Era igualzinho às fotografias de casa de chá antigas que tinha visto nos livros dos professores, com cerca de uma dúzia de mesas redondas de mogno espalhadas pela sala e bancos da mesma madeira encostados às paredes. Tinha também o ar de uma velha biblioteca, com prateleiras baixas a dividirem o aposento em quatro, para proporcionarem às mesas um ambiente mais íntimo. À direita da porta havia uma encantadora mesa alta para a preparação do chá, também igual às das fotografias antigas, onde belas mulheres evitavam tocar com as mangas nas chávenas que aqueciam com água quente para depois verterem o chá dos delicados bules de porcelana. Atrás daquela mesa estava pendurada uma cortina azul em batik com o ideograma chinês para Chá desenhado a branco. À esquerda da entrada ficava uma escrivaninha antiquada com um conjunto de pincéis de caligrafia, placas de tinta (com uma pedra para as moer), papel e, por baixo, uma grande urna de porcelana com rolos de papéis e pincéis maiores. Junto à parede do fundo encontrava-se uma cítara clássica, uma vitrina com servições de chá e, entre eles, um belo cartaz com o ideograma "paz". Do tecto pendiam pincéis para a pintura de paredes, e eram tão grandes que quase podiam ser usados para varrer o chão.
Seis ficou espantada com a beleza da sala. Achou os seus olhos insuficientes para abarcarem tudo.
- Gostas? - perguntou Óculos Grossos.
- Adoro! - exclamou Seis baixinho. Nunca sonhara sequer que um dia entraria num local tão encantador.
Xinran, As Filhas Sem Nome, Lisboa: Bertrand Editora, 2008, pp. 82-83
terça-feira, 3 de junho de 2008
Casa de Chá dos Provadores de Livros
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