Depois de uma Fenda que não convenceu as leitoras, eis as novas propostas de leitura para este mês de Verão:
- Lídia Jorge, Praça de Londres
Em Praça de Londres, reúnem-se 5 contos de Lídia Jorge.
Além do conto que dá o título à recolha, dela ainda fazem parte Rue du Rhône, Branca de Neve e Viagem para Dois, narrativas já antes publicadas. O último conto, Perfume, é um inédito que a autora dedica ao realizador turco Yilmaz Güney, autor do filme Yol. Trata-se de uma espécie de réplica à história de amor que esse filme narra, transplantada para uma outra geografia humana.
Praça de Londres tem como subtítulo Cinco Contos Situados, por se tratar de narrativas inscritas em espaços urbanos reconhecíveis e por invocar instantes de vida marcantes, colhidos do quotidiano normal.De um modo geral, o tom destas cinco narrativas oscila entre o intimista e o irónico. A questão da inocência e da perda é um dos temas que lhes dá unidade.
- Stephenie Mayer, Crepúsculo / Twilight
A mudança de Isabella Swan para Forks — uma cidade pequena e permanentemente chuvosa do estado de Washington — podia ter sido o passo mais entediante que ela jamais dera. No entanto, quando ela conhece o misterioso e cativante Edward Cullen, a vida de Isabella sofre uma viragem emocionante e aterradora. Até este momento, Edward conseguiu manter a sua identidade vampírica em segredo na pequena comunidade em que vive. A partir de agora, porém, ninguém está a salvo, sobretudo Isabella, a pessoa que Edward mais preza. O casal de namorados dá por si precariamente equilibrado no fio da navalha — entre o desejo e o perigo
- Enrique Vila-Matas, Exploradores do Abismo
Perguntaram um dia a Enrique Vila-Matas o que estava a escrever. O escritor vivia, depois de Doutor Pasavento, numa permanente sensação de caminho fechado, pois sentia que tinha chegado ao fim de um certo percurso e perante ele se abria um abismo. «Estou a escrever o título de um livro», respondeu ele. O título era Os Exploradores do Abismo. Nos dias seguintes começou a surgir uma série de histórias relacionadas com o que esse título sugeria. Todo o livro é a exploração desse abismo. E, como o próprio título indica, trata-se de histórias protagonizadas por seres que se encontram à beira do precipício, seres que aí se equilibram e estudam, investigam, analisam o abismo. Os exploradores são, obviamente, uma metáfora da condição humana. São optimistas e as suas histórias, em geral são as de pessoas normais que, quando se vêem à beira do abismo, adoptam a posição de um expedicionário e sondam o horizonte, indagando o que pode haver fora de aqui, ou mais além dos nossos limites. São pessoas não especialmente modernas, pois em geral desdenham do fastio existencial tão em voga. É gente antiquada e muito activa que mantém uma relação desinibida e directa com o vazio. Por vezes, esse vazio é o centro da história, enquanto que noutros casos o abismo é apenas um bom pretexto para escrever um conto. Na realidade, os contos deste livro procuram pontes num admirável abismo, pacientemente explorado em todas as direcções possíveis por histórias subtilmente interligadas. No final estamos sem dúvida menos perdidos que no princípio, mas também mais próximos de um novo precipício
- Markus Zusak,
Quando a morte nos conta uma história temos todo o interesse em escutá-la. Assumindo o papel de narrador em A Rapariga que roubava livros, vamos ao seu encontro na Alemanha, por ocasião da segunda guerra mundial, onde ela tem uma função muito activa na recolha de almas vítimas do conflito. E é por esta altura que se cruza pela segunda vez com Liesel, uma menina de nove anos de idade, entregue para adopção, que já tinha passado pelos olhos da morte no funeral do seu pequeno irmão. Foi aí que Liesel roubou o seu primeiro livro, o primeiro de muitos pelos quais se apaixonará e que a ajudarão a superar as dificuldades da vida, dando um sentido à sua existência. Quando o roubou, ainda não sabia ler, será com a ajuda do seu pai, um perfeito intérprete de acordeão que passará a saber percorrer o caminho das letras, exorcizando fantasmas do passado. Ao longo dos anos, Liesel continuará a dedicar-se à prática de roubar livros e a encontrar-se com a morte, que irá sempre utilizar um registo pouco sentimental embora humano e poético, atraindo a atenção de quem a lê para cada frase, cada sentido, cada palavra.
Prémios: Este livro foi nomeado para o Commonwealth Writers Prize em 2006. No mesmo ano, foi finalista do prémio atribuído anualmente pelos livreiros australianos, e finalista em duas categorias dos prémios da indústria livreira na Austrália. Venceu o Kathleen Mitchell Award, prémio de mérito atribuído a jovens escritores.
“Zusak não só cria uma história original e enfeitiçante, como escreve com poesia… Uma narrativa extraordinária.” - School Library Journal
“Brilhante… É um daqueles livros que podem mudar a nossa vida…”
- New York Times - Nº 1 na Amazon.com, (Abril 2007), na Irlanda (Abril 2007) e em Taiwan (Julho 2007).- Nº 1 no New York Times (Abril 2007), alternando com outras posições cimeiras num total de 40 semanas.
- Nicolai Gogol, O Nariz + O capote
“À data de 25 de Março deu-se em São Petersburgo um acontecimento de inaudita estranheza. O barbeiro Ivan Iákovlevitch (...) acordou bastante cedo e cheirou-lhe a pão quente. (...) Vestiu, por respeito das conveniências, a casaca por cima da camisa e, sentando-se à mesa, serviu-se de sal, preparou duas cebolas, pegou na faca e, com uma expressão eloquente na cara, pôs-se a cortar o pão. Ao separá-lo em dois, olhou para o miolo e, surpresa sua, viu algo esbranquiçado. (...) Enfiou os dedos e tirou - um nariz!...” Ao mesmo tempo, o assessor de colégio Kovaliov fica perplexo ao descobrir que “o sítio do seu nariz era um lugar perfeitamente raso”, correndo ao encontro do chefe da polícia. Assim se inicia O Nariz, conto do absurdo publicado pela primeira vez em 1836, na revista Sovreménnik [O Contemporâneo] fundada e dirigida por Aleksandr Púchkin.
“O Capote é um texto inovador: contribuiu para a “invenção” da cidade “mais fantástica do mundo” (Dostoiévski) sem a qual não teriam sido possíveis as Petersburgos de Dostoiévski, Blok, Andrei Béli, Mandelstam, a Praga de Kafka, a Berlim de Benjamim, etc. A cidade onde os homúnculos frustrados e solitários de Gógol se perdem e perdem o que têm de mais íntimo (o nariz, o juízo, a identidade, o capote). É também um texto inovador na sua forma sacudida, na alternância de estilos contraditórios, nas hipérboles grotescas e, sobretudo, na assunção da artificialidade da coisa escrita, na constante auto-ironia do que vai sendo escrito, criando uma distanciação ou uma ruptura do texto com o real cujo resultado é, contudo, uma estranha verosimilhança, uma aproximação do fantástico ao real (à falta de melhores palavras, um crítico russo chamou-lhe “fantasia sem fantástico”), da vida à morte, do escrito ao vivido. Em minha opinião, neste aspecto Gógol é ainda hoje inimitável.” Filipe Guerra
- Robert Walzer, Histórias de Amor (não encontrei informação sobre esta proposta. Se me for enviada, claro que a acrescento!)
E ganhou...
Crepúsculo / Twilight, de Stephenie Meyer!!
Consta que está a conseguir "destronar" o Harry Potter e que é igualmente viciante!
Boa leitura!
domingo, 29 de junho de 2008
As propostas de leitura para o próximo mês
sexta-feira, 27 de junho de 2008
quinta-feira, 26 de junho de 2008
quarta-feira, 25 de junho de 2008
reinos femininos da imaginação
You know, whenever women make imaginary female kingdoms in literature, they are always very permissive, to use the jargon word, and easy and generous and self-indulgent, like the relationships between women when there are no men around. They make each other presents, and they have little feasts, and nobody punishes anyone else. This is the female way of going along when there are no men about or when men are not in the ascendant.
Doris Lessing, "New York Times Book Review", p. 24, New York Times (March 30, 1980).
uhmmm, pois... E ela própria em The Cleft / A Fenda também não fugiu a esta regra. Antes do nascimento do primero "monstro" supostamente haveria harmonia. Será?...
To be calm is the highest achievement of the self.
(ensinamento de hoje do meu YogiTea)
terça-feira, 24 de junho de 2008
Ventana sobre el miedo
El hambre desayuna miedo. El miedo al silencio aturde las calles. El miedo amenaza:
segunda-feira, 23 de junho de 2008
O Orfanato
Fui ver O Orfanato, filme de Juan Antonio Bayona, produzido por Guillermo del Toro. Não sabia muito bem o que esperar: um filme de terror clássico ou, como li nas críticas, algo muito mais subtil?
A história é a seguinte: Laura (Belén Rueda, numa interpretação excelente) passou parte da sua infância num orfanato e desse sítio guarda muito boas recordações, tanto do pessoal, como das outras crianças. Passados uns trinta anos, compra o edifício e pretende montar ali, junto com o marido e o filho uma residência de acolhimento de crianças com necessidades especiais. Os problemas começam quando o filho de Laura, Simón (Roger Príncep), arranja uma série de amigos imaginários. Certo dia, Laura, cansada das invenções de Simón, não lhe dá ouvidos sobre os tais amigos. E mais não conto, para não estragar o suspense.
Benicio Del Toro diz-se orgulhoso de ter produzido o filme com apenas 4,5 milhões de euros e reitera o fato de que boa parte da equipa é de novatos: o montador e o diretor de fotografia são estreantes, assim como o director do filme, o catalão Juan Antonio Bayona. Não se nota nada!
No entanto, e ao contrário das críticas que tinha lido, achei que o filme se afunda completamente nas convenções do género: o regresso à casa mal-assombrada, antiga e isolada, a criança que vê fantasmas, as sinistras bonecas antigas, o cepticismo do marido, a figura da perceptora, etc, etc.
Onde acho que o filme está bem conseguido é em termos visuais, conseguindo através de uma irrepreensível fotografia e cenários bem escolhidos recriar um ambiente ao mesmo tempo belo e inquietante. Também achei que sabe onde provocar os saltos na cadeira dos espectadores: sem os banalizar, em doses homeopáticas.
Em suma: não é particularmente original, nem em termos dos elementos da narrativa, nem em termos do desfecho final, e recordo como Os Outros conseguiu surpreender o espectador. Mas é um filme visualmente muito atractivo e que acaba por não defraudar o espectador.
sábado, 21 de junho de 2008
Castelos no ar
.
M.C. Escher, castle in the air (1928)
"If you have built castles in the air, your work need not be lost.
There is where they should be.
Now put the foundations under them."
Henry David Thoreau
"Se construiste castelos no ar, a tua obra não precisa de ser em vão.
É lá que eles devem estar.
Agora, constroi as fundações por baixo deles".
(tradução minha)
sexta-feira, 20 de junho de 2008
bestiais e bestas
Não há hipótese: ou são os maiores do mundo, ou são uma cambada de bandalhos mimados sem espinha nem garra. Nem mar, nem terra (mas até é mais mar!) : são uma das oito melhores selecções de futebol da Europa. E é muito bom. É mais do que se pode dizer da economia, do nível de vida, do nível de literacia, da qualidade dos cuidados de saúde, da segurança nas estradas, and so on and so forth.
Retomemos a vida para lá do futebol (uff...).
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Ventana sobre la cara invisible
Todo tiene, todos tenemos, cara y señal. El perro y la serpiente y la gaviota y tú y yo, los que estamos viviendo y los ya vividos y todos los que caminan, se arrastran o vuelan: todos tenemos cara y señal.
Eso creen los mayas. Y creen que la señal, invisible, es más cara que la cara visible. Por tu señal te conocerán.
Eduardo Galeano, Las Palabras Andantes, México, D.F.: siglo veintiuno editores, 1993, p. 91.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
O caos e as estrelas
To learn, read.
To know, write.
To master, teach.
(ensinamento de hoje do meu chá YogiTea)
terça-feira, 17 de junho de 2008
A literatura e o grito
Discutíamos na nossa última reunião que os grandes escritores crescem muitas vezes no seio de familias disfuncionais, em ambientes conturbados. A este propósito, a a.c. lembrou-se de um trecho de António Lobo Antunes, onde diz precisamente isso:
“A inutilidade da comunicação cada vez me parece mais evidente. E depois penso muitas vezes se o Beckett não estará no bom caminho, o do silêncio total, desabitado, nu. Entretanto lá vou tentando escrever por ressentimento. A psicanálise explicaria: pai tirânico, meio familiar sufocante, uma horrível necessidade de afirmação e de afecto, etc. As simplificações deste tipo são extremamente cruéis porque são só parcialmente verdadeiras. Mas são, de facto: era impossível, por exemplo, nascer um artista dos teus pais – e não há aqui nada de pejorativo: é um ambiente demasiado normal, e portanto, nada estimulante. Mas é fatal que de uma família tão ibseniana como a minha só poderiam sair gritos em todos os sentidos. E depois o meu pai armou-nos carris de um grito mais ou menos artístico…”
António Lobo Antunes (Org.: Maria José Lobo Antunes, Joana Lobo Antunes)
D’este viver aqui neste papel descripto: Cartas da guerra, Lisboa: Dom Quixote, 2005, pp. 236-7.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Hay-on-Wye - a Cidade dos Livros
Continuando a série de posts dedicados aos lugares de letras, não podia deixar de referir Hay-on-Wye, no País de Gales, que visitei há uns anos.
Este fenómeno ficou a dever-se a um homem, Richard Booth, que começou a vender livros em segunda mão ao quilo no antigo quartel dos bombeiros em 1961.
Com a aquisição de mais e mais livros, expandiu o seu negócio, comprando outros edifícios que reconverteu em livrarias, como o cinema e o próprio castelo da povação. Uma das livrarias do castelo, a céu aberto, tem uma particularidade muito especial: chama-se Honesty Bookshop, não tem funcionários, e o dinheiro das compras deve ser depositado numa caixa, à saída do castelo.
Foi a partir do castelo, em 1977, que Richard Booth declarou a independência de Hay-on-Wye e se auto-proclamou rei, fazendo do seu cavalo o primeiro-ministro. Começou a emitir dinheiro em papel de arroz, passaportes, e a conceder títulos de Duque, Conde, Barão, etc.
A enorme quantidade de livros atraiu um grande número de negociantes de livros e coleccionadores para a cidade, que rapidamente ficou conhecida como a Cidade dos Livros. Muitos outros livreiros abriram lá negócios, tendo a pequeníssima cidade cerca de quarenta livrarias. Muitas vendem livros em segunda-mão, outras livros novos, e há muitas livrarias especializadas. Em poucas décadas, a cidade transformou-se numa Meca de amantes de livros transformando por completo a economia local.
Desde 1988, realiza-se lá na última semana de Maio um festival literário, agora patrocinado pelo jornal The Guardian, que atrai todos os anos cerca de 80.000 visitantes à pequena cidade. Este ano, entre os convidados contaram-se o antigo Presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, Salman Rushdie, Martin Amis, John Irving e Jamie Oliver.
Digam lá que não vos apetece lá ir!
(as fotos são minhas, o tempo é britânico! :-)
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Pessoa: 120 anos
Red Tape
Estou enterrada em pautas, relatórios, formulários, inquéritos...
Estas burocracias fazem-me sentir assim:
quinta-feira, 12 de junho de 2008
The art of happiness is to serve all
(ensinamento no saquinho de Yogi Tea de hoje)
terça-feira, 10 de junho de 2008
See the soul and divinity in everybody
(no papeluxo do meu saquinho de Yogi Tea de hoje)
Pés
"best foot forward", Phil Free
Ontem à noite a conversa versava sobre um tema pouco comum: pés! Pés grandes, pequenos, delicados, robustos, de princesa, de bailarina, "pés Paula Rego", pés simétricos, asimétricos, triangulares, rectangulares, mais para o redondo, com joanetes, sem joanetes...
Andamos o dia todo em cima deles, e raramente são assim tema de conversa. Vivam os pés!
segunda-feira, 9 de junho de 2008
sábado, 7 de junho de 2008
Sobre o orgulho nacional
Sempre fomos um povo deprimido, muito dado à auto-crítica arrasadora. Assim continuamos. Mas, em paralelo, e sem que tal constitua um paradoxo de maior, também temos vindo a desenvolver nos últimos anos um orgulho nacional feroz e combativo.
Penso que terá começado em 1998, por altura da Expo, quando nos apercebemos que afinal até éramos capazes de organizar um grande evento internacional sem meter muita água. Esse sentimento foi confirmado pela bem sucedida organização do Euro 2004. Claro que nos esquecemos que ainda estamos a pagar essas contas, que temos o país pejado de enormes e luxuosos estádios de futebol e as nossas escolas, hospitais e afins continuam tão maus como sempre.
Depois, durante o Euro 2004, o nosso seleccionador (que por acaso até é brasileiro) apelou a que todos manifestássemos o nosso apoio à selecção colocando a bandeira nacional nas nossas janelas. Nunca pensei que colasse. Sempre pensei que isso era o tipo de coisa que só os americanos, com o seu incondicional e naïf orgulho nacional conseguiriam fazer. Enganei-me. No espaço de uma semana tínhamos o país inteiro coberto de verde e vermelho. Era impressionante ver ruas inteiras cobertas de bandeiras, prédios enormes onde em todas as janelas se lia o orgulho no nosso país.
Na altura achei o máximo! Mas depois acabou o Euro, passaram as semanas, e algumas (muitas) bandeiras lá continuavam, já meio esfarrapadas, já meio descoloradas. Aí comecei a achar que era um pouco excessivo.
Agora, com o início do Euro 2008, tudo parece estar a começar de novo.
Não me sinto confortável com grandes demonstrações de orgulho nacional. Sempre senti que o patriotismo não é apenas um sentimento de pertença, mas de estar contra. Não é apenas inclusivo, mas antes de mais exclusivo. És tu e os teus compatriotas contra o resto do mundo. Eu não quero estar contra o resto do mundo. Também não quero estar com todo um grupo de pessoas que podem ou não merecer essa comunhão. Prefiro escolher as minhas lealdades, sem ter em conta algo de tão arbitrário como o nome do país impresso no passaporte.
Mas isto sou eu…
A lógica dos factos
Afinal não passamos de criaturas ocupadas em desencantar o sentido que julgamos existir incrustrado na lógica dos factos, quando o mais corrente é supor-se que não existe lógica nenhuma, que a vida é um bidão de lixo entornado pelo vale do Mundo.
Lídia Jorge, "Viagem Para Dois", in AAVV. O Prazer da Leitura, Lisboa: Fnac / Teorema, 2008, p. 92.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
A essência do fanatismo
A essência do fanatismo reside no desejo de obrigar os outros a mudar. Nessa tendência tão comum de melhorar o vizinho, de corrigir a esposa, de fazer o filho engenheiro ou de endireitar o irmão, em vez de deixá-los ser. O fanático é uma das mais generosas criaturas. O fanático é um grande altruísta. Está mais interessado nos outros que em si próprio. Quer salvar a nossa alma, redimir-nos. Livrar-nos do pecado, do erro, do tabaco, da nossa fé ou da nossa carência de fé. Quer melhorar os nossos hábitos alimentares, ou curar-nos do alcoolismo e do hábito de votar. O fanático morre de amores pelo outro. Das duas uma: ou nos deita os braços ao pescoço porque nos ama de verdade, ou se atira à nossa garganta em caso de sermos irrecuperáveis. Em qualquer caso, topograficamente falando, deitar os braços ao pescoço ou atirar-se à garganta é quase o mesmo gesto. De uma maneira ou de outra, o fanático está mais interessado no outro do que em si mesmo, pela simples razão de que tem um mesmo bastante exíguo, ou mesmo nenhum mesmo.
Amos Oz, contra o fanatismo, Porto: Asa Editores, 2007, pp. 22-23.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Dia Mundial do Ambiente
Saiba mais sobre isto aqui.
Caramel
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Deus e a Literatura
Não que eu acredite em Deus. Um escritor nunca acredita em Deus. Não pode. Como poderia? Um escritor que acreditasse em Deus estava tramado. Não conseguiria ser escritor. A fabricação alquímica de um romance pede um misto de crença e descrença. Crença na nossa capacidade de reescrever o mundo; descrença na capacidade do mundo de ficar melhor do que o que era.
E o mundo é um borrão! O mundo é o maior dos falhanços! Deus, se alguma vez existiu, limitou-se a fazer um esboço - e a deixar que esse esboço fosse impresso sem sequer ter tempo de o rever, tempo de apagar as excrecências, tempo de corrigir as vírgulas, tempo de encontrar novas formas - verbais ou nominais - de dizer a palavra mundo! Não, um escritor não pode confiar em Deus. Um escritor que acreditasse - ou confiasse - em Deus estaria pior que tramado. Estaria fodido.
Rui Zink, "O jogo literário" in AAVV. O Prazer da Leitura, Lisboa: Fnac / Teorema, 2008, p. 206.
ser escritor é isto
Ser escritor é isto: fingir que trabalhamos a superfície, a fim de escavarmos o que nos cala bem fundo. Dizer as palavras para fazer falar o silêncio. Ser escritor é isto. É isto ser escritor.
Rui Zink, "O jogo literário" in AAVV. O Prazer da Leitura, Lisboa: Fnac / Teorema, 2008, p. 209.
terça-feira, 3 de junho de 2008
Casa de Chá dos Provadores de Livros
Este é simultaneamente um lugar de letras e um lugar de chá, embora só exista no plano da ficção:
Porém, se Seis ficara fascinada com a fachada da loja, o interior encantou-a mais. Era igualzinho às fotografias de casa de chá antigas que tinha visto nos livros dos professores, com cerca de uma dúzia de mesas redondas de mogno espalhadas pela sala e bancos da mesma madeira encostados às paredes. Tinha também o ar de uma velha biblioteca, com prateleiras baixas a dividirem o aposento em quatro, para proporcionarem às mesas um ambiente mais íntimo. À direita da porta havia uma encantadora mesa alta para a preparação do chá, também igual às das fotografias antigas, onde belas mulheres evitavam tocar com as mangas nas chávenas que aqueciam com água quente para depois verterem o chá dos delicados bules de porcelana. Atrás daquela mesa estava pendurada uma cortina azul em batik com o ideograma chinês para Chá desenhado a branco. À esquerda da entrada ficava uma escrivaninha antiquada com um conjunto de pincéis de caligrafia, placas de tinta (com uma pedra para as moer), papel e, por baixo, uma grande urna de porcelana com rolos de papéis e pincéis maiores. Junto à parede do fundo encontrava-se uma cítara clássica, uma vitrina com servições de chá e, entre eles, um belo cartaz com o ideograma "paz". Do tecto pendiam pincéis para a pintura de paredes, e eram tão grandes que quase podiam ser usados para varrer o chão.
Seis ficou espantada com a beleza da sala. Achou os seus olhos insuficientes para abarcarem tudo.
- Gostas? - perguntou Óculos Grossos.
- Adoro! - exclamou Seis baixinho. Nunca sonhara sequer que um dia entraria num local tão encantador.
Xinran, As Filhas Sem Nome, Lisboa: Bertrand Editora, 2008, pp. 82-83
domingo, 1 de junho de 2008
Dia Mundial da Criança
Em 20 de Novembro de 1989, as Nações Unidas adoptaram por unanimidade a Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC), documento que enuncia um amplo conjunto de direitos fundamentais – os direitos civis e políticos, e também os direitos económicos, sociais e culturais – de todas as crianças, bem como as respectivas disposições para que sejam aplicados.