Entrar em Belfast pela primeira vez a ouvir Sunday, Bloody Sunday a todo o volume tem um sabor especial, e apesar dos terríveis acontecimentos que tingiram esse Domingo de 30 de Janeiro de 1072 de vermelho terem sucedido em Derry e não em Belfast, sentimos que, não obstante a tão apregoada paz, a tensão ainda subsiste e, como tal, a "banda sonora" estava apropriada.
Escolhemos a pior noite do ano para passar em Belfast: de 11 para 12 de Julho, quando nesta última data se celebra a vitória de Guilherme de Orange, protestante, rei de Inglaterra entre 1689 e 1702, sobre James II, católico, na Batalha de Boyne, em 1690. Neste dia realizam-se paradas organizadas pela Ordem de Orange, em que os loyalists ou unionists (os que defendem a manutenção da Irlanda do Norte como parte do Reino Unido) celebram a vitória sobre os irlandeses católicos e republicanos. Como facilmente se pode compreender, esta tem sido tradicionalmente uma data propensa a conflitos, desacatos e derramamento de sangue.
Eu a V., muito destemidas, resolvemos dar uma voltinha pela cidade ao serão, até porque nos tinham dito que já há anos que não ocorriam incidentes. Uma das primeiras coisas que vimos foi a fachada desta casa e todo um bairro pintado com as cores da Union Jack, a bandeira do Reino Unido. Apesar de ter lido que são agora considerados atracções turísticas, estes murais não deixam de ser intimidantes.
Para além de magotes de homens com garrafas de bebida nas mãos, as ruas estavam quase desertas e o ambiente era obviamente tenso. Ainda nos perdemos ao tentar evitar as ruas mais escuras para voltar para o hotel, mas lá conseguimos chegar, sãs e salvas.
Logo de manhã tivemos que ir embora, para evitar que o nosso carro ficasse trancado quando a polícia fechasse as ruas para a parada passar.
Ficou a vontade de voltar a Belfast noutra data mais pacífica. Pareceu-nos uma cidade muito interessante, de grandes artérias abertas ao espaço e variedade arquitectónica. Outra oportunidade virá!