Tendo dito isto, o seu olhar azul brilhava novamente de alegria, brincalhão, ao mesmo tempo que enunciava na sua voz lenta e quente, com palavras claras, nun iídiche imagético e fluente, o que Jean-Paul Sartre viria a descobrir anos mais tarde: «Mas o que é o inferno? E o paraíso? Tudo se passa cá dentro. Dentro de casa. Porque o inferno e o paraíso existem em todos os quartos. Por detrás de cada porta. Debaixo de cada manta de casal. É assim: basta um pouco de maldade para o homem se tornar um inferno para o homem, e basta um nadinha de compaixão para ser o paraíso.
Disse um pouco de compaixão e de generosidade, não falei de amor: não acredito no amor universal. (...) O amor é uma mistura estranha de uma coisa e do seu contrário, a mistura do egoísmo mais egoísta com a entrega mais total. Um paradoxo! Para além disso, o amor, e toda a gente passa a vida a falar de amor, sim, o amor não se escolhe, pega-se-nos, aprisiona-nos, como uma doença, uma catástrofe. E então o que é que escolhemos? Entre o quê e o quê é que os homens têm que optar a cada momento? Entre a generosidade e a maldade.»
Amos Oz, Uma História de Amor de Trevas
sábado, 5 de abril de 2008
A generosidade, a maldade e o amor
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Amos Oz
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2 comentários:
lindo!
maravilhoso! fiquei 100 palavras...
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