Bem, é assim: parece que circula na internet há anos uma versão em espanhol do texto anterior em que surge atribuído a Pablo Neruda.
O mais engraçado é que o logro tomou proporções internacionais:
O senador democrata-cristão, Clemente Mastella, que provocou a queda em Janeiro deste ano do primeiro-ministro Romano Prodi, recitou o 'falso' poema de Pablo Neruda para explicar as razões de sua deslealdade ao governo de centro-esquerda.
Para explicar as razões de sua mudança de bancada, Mastella terá lido o poema "A Morte devagar", que atribuiu a Pablo Neruda. A atitude do senador gerou divertidas controvérsias na Itália, já que o poema não era do chileno, mas da brasileira Martha Medeiros.
Segundo a Passigli Editore, a casa italiana das obras de Pablo Neruda, "a poesia recitada por Mastella não é do grande poeta chileno"."Trata-se de uma brincadeira que há anos circula na internet", garantiu a editora que desqualifica os versos por seu estilo new age e "nada nerudianos"."Melhor assim: consideramos que Pablo Neruda, que tinha grandes ideais políticos, não teria gostado de ter sido citado nesta ocasião com um poema seu", concluiu a editora que fazia alusão à longa militância comunista do poeta chileno, Prêmio Nobel de literatura em 1971. Mastella, líder da União de Democratas, renunciou posteriormente ao cargo de ministro da Justiça depois de saber que está a ser investigado por corrupção política e abuso de poder.
Entretanto li aqui um comentário da autora ao logro:
No dia seguinte [ao discurso], quem diria: os principais jornais da Itália estampavam uma foto minha, creditando a mim a verdadeira autoria do texto que abalou o governo. Meus 15 minutos de fama internacional.Achei a maior graça, vou fazer o quê, chorar? Jamais um texto meu seria lido tão longe e por um motivo tão sério se não achassem que o autor era um Nobel de Literatura. Francamente, quem é que sabe que eu existo na Itália? Bom, agora sabem. Indiretamente, saí ganhando com esse equívoco, mas vamos pensar juntos: por que o senador não leu um texto com autoria comprovada? Simples: porque foi mais um que se deixou levar pelas "facilitações" da internet. Porque é provável que ele nunca tenha lido Neruda na vida, ou saberia reconhecer o estilo do chileno. Porque ele foi apressado e confiou demais no mundo virtual quando deveria seguir confiando em livros.”
O caso é divertido e a autora deve ter dado pulos de contente, mas realmente dá que pensar a facilidade com que encontramos (des)informação na net e em como nos vamos desabituando a conferir as fontes. Por muito que goste de blogues, e páginas web, e de ter o mundo sob os meus dedos, vivam os livros!
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Dos perigos da Internet: agora a história por detrás do texto anterior
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