500 anos de auto-retratos masculinos na arte ocidental
Outra "pérola" de Philip Scott Johnson
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Self Portraits
Dos perigos da Internet: agora a história por detrás do texto anterior
Bem, é assim: parece que circula na internet há anos uma versão em espanhol do texto anterior em que surge atribuído a Pablo Neruda.
O mais engraçado é que o logro tomou proporções internacionais:
O senador democrata-cristão, Clemente Mastella, que provocou a queda em Janeiro deste ano do primeiro-ministro Romano Prodi, recitou o 'falso' poema de Pablo Neruda para explicar as razões de sua deslealdade ao governo de centro-esquerda.
Para explicar as razões de sua mudança de bancada, Mastella terá lido o poema "A Morte devagar", que atribuiu a Pablo Neruda. A atitude do senador gerou divertidas controvérsias na Itália, já que o poema não era do chileno, mas da brasileira Martha Medeiros.
Segundo a Passigli Editore, a casa italiana das obras de Pablo Neruda, "a poesia recitada por Mastella não é do grande poeta chileno"."Trata-se de uma brincadeira que há anos circula na internet", garantiu a editora que desqualifica os versos por seu estilo new age e "nada nerudianos"."Melhor assim: consideramos que Pablo Neruda, que tinha grandes ideais políticos, não teria gostado de ter sido citado nesta ocasião com um poema seu", concluiu a editora que fazia alusão à longa militância comunista do poeta chileno, Prêmio Nobel de literatura em 1971. Mastella, líder da União de Democratas, renunciou posteriormente ao cargo de ministro da Justiça depois de saber que está a ser investigado por corrupção política e abuso de poder.
Entretanto li aqui um comentário da autora ao logro:
No dia seguinte [ao discurso], quem diria: os principais jornais da Itália estampavam uma foto minha, creditando a mim a verdadeira autoria do texto que abalou o governo. Meus 15 minutos de fama internacional.Achei a maior graça, vou fazer o quê, chorar? Jamais um texto meu seria lido tão longe e por um motivo tão sério se não achassem que o autor era um Nobel de Literatura. Francamente, quem é que sabe que eu existo na Itália? Bom, agora sabem. Indiretamente, saí ganhando com esse equívoco, mas vamos pensar juntos: por que o senador não leu um texto com autoria comprovada? Simples: porque foi mais um que se deixou levar pelas "facilitações" da internet. Porque é provável que ele nunca tenha lido Neruda na vida, ou saberia reconhecer o estilo do chileno. Porque ele foi apressado e confiou demais no mundo virtual quando deveria seguir confiando em livros.”
O caso é divertido e a autora deve ter dado pulos de contente, mas realmente dá que pensar a facilidade com que encontramos (des)informação na net e em como nos vamos desabituando a conferir as fontes. Por muito que goste de blogues, e páginas web, e de ter o mundo sob os meus dedos, vivam os livros!
A Morte Devagar
Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado.
Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário.
Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo. Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois, quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.
Martha Medeiros
Sobre a autora:Martha Medeiros nasceu em Porto Alegre em 1961. Formada em Publicidade. Escreveu livros de poesias e de crônicas, o seu mais recente lançamento é o livro de ficção Divã. Martha é cronista do jornal Zero Hora.
Os matizes da escrita
Escrever um romance, disse eu um dia, é como montar a cadeia das montanhas de Edom com cubos de Lego. Ou como pôr de pé Paris inteira, com os seus edifícios, as suas praças, alamedas, torres e bairros até ao último banco de rua, com fósforos e partes de fósforos colados.
Para escrever um romance com oitocentas mil palavras é preciso tomar um milhão de decisões. Não apenas sobre o enredo, sobre quem fica vivo e quem morre, quem ama ou quem engana, quem será rico ou quem ficará pobre, quais serão os nomes das personagens, como serão os seus rostos, os seus hábitos e as suas ocupações, ou como dividir o livro em capítulos, qual o nome do livro (estas são as decisões simples, as mais gerais); não apenas o que se deve contar ou omitir, o que deve vir antes ou depois, e o que se deve revelar explicitamente ou apenas por alusão (estas também são decisões bastante fáceis), mas também tomar uma infinidade de decisões subtis, como por exemplo, se ali, no final da terceira frase, se deve dizer azul ou azulado? Ou será azul-celeste? Ou antes azul-claro? Ou talvez azul-escuro? Provavelmente o melhor é azul acinzentado? E este azul acinzentado é melhor colocá-lo no início da frase? Ou no final? E se for no meio? Ou transformá-lo numa frase independente muito breve, com um ponto atrás e outro à frente? E não será melhor que esse matiz entre no fluir de uma frase complexa, com muitas subordinadas? Se calhar mais vale escrever simplesmente as três palavras “luz do entardecer” sem a colorir de azul acinzentado, de azul cinza, ou de outra coisa qualquer?
Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas, Porto: Asa Editores, 2007, pp. 330-1.
domingo, 27 de abril de 2008
Ventana sobre el cuerpo
La Iglesia dice: El cuerpo es una culpa.
La ciencia dice: El cuerpo es una máquina.
La publicidad dice: El cuerpo es un negocio.
El cuerpo dice: Yo soy una fiesta.
Eduardo Galeano (con grabados de J. Borges), Las Palabras Andantes, México, D.F.: siglo veintiuno editores, 1993.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Dia Mundial de mim :-)
Ok, eu reconheço que tem vindo a perder ligeiramente em importância: dia mundial da terra no dia 22, dia mundial do livro no dia 23 e dia 24 é... ups, dia de minzinha! Mundial será, na medida em que cada um de nós constitui o seu próprio mundo. Não queria deixar de agradecer aos outros mundinhos todos que gravitam em órbitas paralelas à minha, que são aqueles que me acompanham desde sempre e com os quais sempre contarei, àqueles com trajetórias divergentes, que em algum momento se cruzaram comigo e que seguiram o seu caminho, e mesmo aos mundinhos de trajetórias convergentes, que ainda não conheço, mas que um destes dias encontrarei, em rota de colisão ou apenas para uma aproximação ligeira. Obrigada a todos por tornarem a viagem mais rica.
quarta-feira, 23 de abril de 2008
terça-feira, 22 de abril de 2008
Dia Mundial da Terra
O dia 22 de Abril marca a luta pelo meio ambiente, um pouco por todo o mundo. Milhões de pessoas manifestam-se de modo a chamar a atenção dos governantes para os problemas que afectam o nosso planeta, nomeadamente o aquecimento global e a poluição.
O Dia da Terra foi instituído em 1970 pelo Senador norte-americano Gaylord Nelson, que convocou o primeiro protesto a nível nacional contra a poluição, protesto esse coordenado a nível nacional por Denis Hayes. Esse dia conduziu à criação da Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos (EPA).
A partir de 1990, o dia 22 de Abril foi adoptado mundialmente como o Dia da Terra, dando um grande impulso aos esforços de reciclagem a nível mundial e ajudando a preparar o caminho para a Cimeira do Rio (1992).
Actualmente, uma organização internacional, a Rede Dia da Terra coordena eventos e actividades a nível mundial que celebram este dia.
domingo, 20 de abril de 2008
Women In Art
A representação da mulher na pintura ao longo de séculos. Vale muito a pena!
Por Philip Scott Johnson (eggman913)
sábado, 19 de abril de 2008
I belong in Dublin
You Belong in Dublin |
You're the perfect person to go wild on a pub crawl... or enjoy a quiet bike ride through the old part of town. |
Wow!!! Nem a propósito! Afinal eu sou uma Dubliner!
Fiquem a saber qual a cidade europeia perfeita para vocês aqui.
A História, as histórias e as segundas oportunidades
Eu era um miúdo obcecado pela história. Metera-se-me na cabeça corrigir os erros dos generais do passado: assim, por exemplo, reconstituí em imaginação a grande revolta dos Judeus contra os Romanos, impedi a destruição de Jerusalém pelos exércitos de Tito, trasferi os exércitos para o terreno do inimigo, conduzi as tropas de Bar Kochba até às muralhas de Roma, tomei de assalto o Coliseu e coloquei a andeira hebraica na colina do Capitólio. (...)
Com efeito, aquele curioso impulso da minha infância - o desejo de dar uma segunda oportunidade àquilo que não tem nem voltará a ter outra hipótese - é ainda hoje o impulso que me move sempre que começo a escrever uma história.
Amoz Oz, Uma História de Amor e Trevas
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Borboletas e tornados
Morreu Edward Lorenz, pai da Teoria do Caos
Morreu hoje, aos 90 anos, Edward Lorenz, pai da Teoria do Caos. Lorenz defendia que pequenos acontecimentos num ponto do planeta podem originar grandes mudanças no ponto oposto – o chamado efeito borboleta. O anúncio da sua morte foi feito pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), a que Lorenz pertencia.Lorenz, meteorologista de formação, defendeu na década de 60 que pequenas alterações em qualquer sistema dinâmico, como a atmosfera, que bem conhecia, podem desencadear grandes transformações, mesmo a muitos milhares de quilómetros de distância. Em 1972 defendeu a sua teoria num estudo a que chamou: “Previsibilidade: o bater de asa de uma borboleta no Brasil pode originar um tornado no Texas?”
quarta-feira, 16 de abril de 2008
A propósito de nada, apenas porque o poema é lindo
“Noches de boda”
Que el maquillaje no apague tu risa,
que el equipaje no lastre tus alas,
que el calendario no venga con prisas,
que el diccionario detenga las balas.
Que las persianas corrijan la aurora,
que gane el quiero la guerra del puedo,
que los que esperan no cuenten las horas,
que los que matan se mueran de miedo.
Que el fin del mundo te pille bailando,
que el escenario te tiña las canas,
que nunca sepas ni cómo, ni cuándo,
ni ciento volando, ni ayer ni mañana.
Que el corazón no se pase de moda,
que los otoños te doren la piel,
que cada noche sea noche de bodas,
que no se ponga la luna de miel.
Que todas las noches sean noches de boda,
que todas las lunas sean lunas de miel.
Que las verdades no tengan complejos,
que las mentiras parezcan mentira,
que no te den la razón los espejos,
que te aproveche mirar lo que miras.
Que no se ocupe de ti el desamparo,
que cada cena sea tu última cena,
que ser valiente no salga tan caro,
que ser cobarde no valga la pena.
Que no te compren por menos de nada,
que no te vendan amor sin espinas,
que no te duerman con cuentos de hadas,
que no te cierren el bar de la esquina.
Joaquín Sabina
terça-feira, 15 de abril de 2008
Os livros e os cambiantes da vida
No fim, o pai explicou-me durante cerca de vinte minutos as realidades da vida. Não me escondeu nada. Iniciou-me no segredo dos deuses do mundo dos bibliotecários: revelou-me a via real e os caminhos transversais, as paisagens vertiginosas das variantes, das nuances, das fantasias, das avenidas distantes, das tonalidades audaciosas e até dos caprichos excêntricos: podiam classificar-se os livros por títulos, por ordem alfabética de nome de autor, por colecções e editores, cronologicamente, por língua, por assunto, por género ou tema, ou até mesmo por local de edição, etc…
E foi assim que me iniciei nos mistérios dos cambiantes: a vida comporta diferentes vias. As coisas podem acontecer desta ou daquela maneira, segundo diferentes partituras ou lógicas paralelas. Cada um desses raciocínios é consequente e coerente à sua maneira, perfeito em si e indiferente a todos os outros.
Amos Oz, Uma história de amor e trevas
domingo, 13 de abril de 2008
Mōkai Rangatira (Māori Animal Myths)
Ganhei de presente um livro para crianças em maori.
Aqui ficam algumas das encantadoras ilustrações.
Te Aihe (o golfinho)
Te Mokomoko (o lagarto)
Te Kiwi (o kiwi)
Te Kuri (o cão)
quinta-feira, 10 de abril de 2008
segunda-feira, 7 de abril de 2008
sábado, 5 de abril de 2008
A generosidade, a maldade e o amor
Tendo dito isto, o seu olhar azul brilhava novamente de alegria, brincalhão, ao mesmo tempo que enunciava na sua voz lenta e quente, com palavras claras, nun iídiche imagético e fluente, o que Jean-Paul Sartre viria a descobrir anos mais tarde: «Mas o que é o inferno? E o paraíso? Tudo se passa cá dentro. Dentro de casa. Porque o inferno e o paraíso existem em todos os quartos. Por detrás de cada porta. Debaixo de cada manta de casal. É assim: basta um pouco de maldade para o homem se tornar um inferno para o homem, e basta um nadinha de compaixão para ser o paraíso.
Disse um pouco de compaixão e de generosidade, não falei de amor: não acredito no amor universal. (...) O amor é uma mistura estranha de uma coisa e do seu contrário, a mistura do egoísmo mais egoísta com a entrega mais total. Um paradoxo! Para além disso, o amor, e toda a gente passa a vida a falar de amor, sim, o amor não se escolhe, pega-se-nos, aprisiona-nos, como uma doença, uma catástrofe. E então o que é que escolhemos? Entre o quê e o quê é que os homens têm que optar a cada momento? Entre a generosidade e a maldade.»
Amos Oz, Uma História de Amor de Trevas