domingo, 8 de janeiro de 2006


O livro seguinte foi "Nunca me deixes", ou, no original "Never Let Me Go", de Kazuo Ishiguro.
Novamente devo reconhecer que não sei onde estão as notas que tirei durante a nossa discussão e, como tenho muito mais onde empregar as minhas células cinzentas neste momento, serve este post apenas para que o livro marque presença no blog.
Em traços muito gerais, voltámos a ter um livro que dividiu completamente as leitoras. Algumas (como eu, a Rita e a Ana Cristina) aderimos incondicionalmente à beleza da escrita de Ishiguro, às suas subtilezas, à estranheza dos temas, mesmo à passividade das personagens, de uma tremenda complexidade emocional. Outras (quase o resto das leitoras) não apreciaram a obra, consideraram a narrativa incoerente e irritaram-se com a incapacidade das personagens para se rebelarem contra o cenário absolutamente abominável que representava o resto das suas vidas.
Em todo o caso, o livro deu azo a uma viva discussão, onde entraram questões como a bioética, no que diz respeito à clonagem. Falou-se do paralelismo da situação dos clonados da obra com a dos escravos. A atitude mais ética será indubitavelmente a da sua libertação, apesar dos problemas económico que esta decisão possa acarretar. Também aqui, aflige a indiferença daqueles que conhecendo a situação dos clonados, opta por fechar os olhos a essa situação e a demitir-se de tomar medidas no sentido de acabar com a exploração desses seres humanos. Também na altura do esclavagismo se argumentava que os escravos não eram seres humanos, não tinham alma. A mesma questão se coloca em "Nunca me deixes". Ao contrário outras opiniões surgidas durante a discussão, penso que fica muito claro que estes seres são profundamente humanos. Mesmo na sua incapacidade de reacção.
Tal como estabeleci o paralelismo com a questão do esclavagismo, também fui ainda um pouco mais longe, aplicando esta mesma ordem de ideias à forma como tratamos os animais, justificando as sucessivas crueldades que lhes infligimos com a assunção de que não têm a capacidade de pensar, de sentir, de sofrer. Penso que, novamente, e quando as mentalidades evoluirem um pouco mais, seremos obrigados a rever e a alterar os nossos comportamentos perante os nossos companheiros de planeta.

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