segunda-feira, 13 de junho de 2005

Eugénio de Andrade (1923-2005)

Estou contente, não devo nada à vida,
e a vida deve-me apenas
dez réis de mel coado.
Estamos quites, assim

o corpo já pode descansar: dia
após dia lavrou, semeou,
também colheu, e até
alguma coisa dissipou, o pobre,

pobríssimo animal,
agora de testículos aposentados.
Um dia destes vou-me estender
debaixo da figueira, aquela

que vi exasperada e só, há muitos anos:
pertenço à mesma raça.

Eugénio de Andrade (1923-2005)
in "Branco no Branco", 1984

Para sempre entre nós.

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