sábado, 24 de julho de 2004

E aqui fica também um artigo em português (brazuca) para quem tem mais dificuldade em ler em inglês:

Jornalismo à queima-roupa
A partir de um crime bárbaro no Kansas, Truman Capote produziu uma obra-prima da reportagem

Rodrigo Alves

Nos salões da alta roda ou na solidão da máquina de escrever, Truman Capote nunca foi de se render aos padrões vigentes. A sangue frio, sua obra máxima, já começa sob este signo. Subvertendo uma das regras mais básicas das escolas de jornalismo, o autor dribla o gesso do lead clássico e gasta quatro páginas com descrições de cenários antes de anunciar, numa frase curta e vaga, do que trata sua reportagem: ''Quatro disparos de espingarda que, no fim das contas, deram cabo de um total de seis vidas humanas.''
Mais adiante, o leitor vai descobrir que estas seis vidas eram de quatro membros da família Clutter - Herb, Bonnie, Nancy e Kenyon, friamente executados numa pequena cidade do Kansas - e seus dois assassinos, Dick e Perry, levados à forca quatro anos depois.
Descontada a carga trágica, a história em si não chega a ser um achado literário, mas foi o bastante para chamar a atenção de Capote na página 39 do New York Times em 16 de novembro de 1959. A matéria em uma coluna noticiava sem muito alarde: ''Um rico plantador de trigo, sua mulher e dois filhos foram encontrados mortos hoje em sua casa. Foram assassinados com tiros à queima-roupa, depois de serem amarrados e amordaçados.''
Passou um mês e lá estava Capote a caminho de Holcomb, uma cidade tranqüila do Meio-Oeste americano que passou a viver em pânico após o crime. A intenção do jornalista era registrar esta epidemia de medo num artigo para a revista The New Yorker. Sem pressa editorial, a apuração poderia durar várias semanas. Acabou durando seis anos, prazo impensável nas redações de hoje. O resultado, claro, foi muito além de um mero retrato do cotidiano local.
As dificuldades começaram com a resistência do investigador Alvin Dewey em conceder longas entrevistas. A população arredia também criava empecilhos e, por mais de uma vez, Capote cogitou abortar o projeto e voltar para casa. Quem o convenceu a seguir foi a amiga de infância Nelle Harper Lee, que o acompanhava na viagem.
Dewey já tinha aberto a guarda a ponto de se tornar um amigo quando os assassinos foram presos em Las Vegas, na antivéspera do Ano Novo de 60. Deu-se ali uma guinada sem volta nos rumos da reportagem.
A maior virtude de A sangue frio reside no apurado perfil humano que Capote desenhou nas duas extremidades da tragédia - as vítimas e os assassinos. Impressiona como o autor, tal qual um psicólogo, reconstrói os pormenores da vida dos Clutter e desvenda o que se passava na mente dos criminosos, numa proximidade perigosa que, acredita-se, cruzou as fronteiras do jornalismo.
Dick Hickock, mecânico que se divertia atropelando cães nas estradas, e Perry Smith, filho de um irlandês com uma índia cherokee alcoólatra, estavam mais próximos do repórter do que ele poderia supor. Na prisão, os bandidos viam em Capote o único elo com o que chamavam de ''mundo livre''.
Nem mesmo a condenação ao enforcamento, estabelecida em março de 1960, freou o ímpeto da apuração, que àquela altura reunia quase 4 mil páginas datilografadas. A primeira visita ao corredor da morte foi ''uma extraordinária e terrível experiência'', que impulsionou o trabalho nos três anos seguintes.
Entre inúmeras apelações judiciais, Dick e Perry continuavam à espera da forca, impondo ao escritor um dilema ético: a ansiedade para publicar o livro batia de frente com a certeza de que o ponto final só viria com a morte de duas figuras agora tão íntimas. A execução foi marcada para 14 de abril de 1963.
Capote chegou ao Kansas duas semanas antes, se esquivou como pôde da última visita, mas estava presente à cena final, como testemunha arrolada pelos réus. Perry escreveu sua carta derradeira uma hora antes de tombar do cadafalso: ''Sinto que Truman não tenha conseguido vir ao presídio para trocarmos umas palavrinhas antes da festa da gravata. Seja qual for o motivo, não o condeno e o compreendo. (...) Sou profundamente grato à amizade nesses anos todos, e por tudo mais. Seu amigo de sempre, Perry.'' Reza a lenda que este ''tudo mais'' era na verdade um romance, nunca confirmado.
Nada disso está no livro. Como bom jornalista, Capote não fez de si um personagem. Nas últimas páginas de A sangue frio, as execuções são narradas sem que o autor apareça em momento algum. O claro envolvimento é desviado, com notável talento, para a ótica das outras pessoas presentes no local: o investigador Dewey, o carrasco em seu terno de risca de giz, os guardas, as testemunhas.
Matinas Suzuki Jr. lembra no posfácio que a redação destas últimas páginas foi tão sofrida para Capote que sua mão ficou paralisada. Na biografia escrita por Gerald Clarke (publicada aqui pela editora Globo, com tradução de Lya Luft), o próprio autor reconhece o drama: ''Ninguém jamais saberá o que este livro tirou de mim. Arrancou-me tudo, até o tutano dos ossos. Quase me matou. Simplesmente não posso esquecê-lo, principalmente os enforcamentos no fim de tudo. Foi horrível.''
Com seus dois personagens mortos, Truman enxugou as lágrimas, voltou para Nova York e escreveu sua obra-prima. O que veio depois foi a glória. Em setembro de 1965, a New Yorker publicava a primeira das quatro partes de A sangue frio. No início do ano seguinte, a publicação da história em livro fez do autor uma figura onipresente na mídia americana. Jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV só falavam dele.
O elogios, claro, trouxeram críticas a reboque. A principal delas punha em xeque a veracidade do que estava escrito. Uma legião de repórteres famintos partiu para Holcomb em busca de depoimentos que denunciassem erros e distorções no texto. De fato, encontraram alguns personagens insatisfeitos com a falta de precisão dos relatos.
Mas Capote nunca deu o braço a torcer. ''O texto é imaculadamente factual'', defendia-se. ''Ninguém passa quase seis anos num livro cujo ponto crucial é a precisão factual e depois comete pequenas distorções.'' O fato é que ele confiava muito na própria memória. Não usava gravador ou sequer bloco de anotações, vangloriando-se da capacidade de registrar mentalmente longas conversas. É bem possível que as inevitáveis lacunas desses registros tenham sido preenchidas com leves incursões literárias do autor.
Gerald Clark, que antes de embarcar em seu livro recebeu uma quase-ameaça do biografado _ ''Não vou respeitá-lo a menos que você diga a mais completa verdade'' _, garante que a última cena de A sangue frio é completamente inventada. O encontro casual entre Alvin Dewey e a melhor amiga de Nancy Clutter no cemitério de Garden City nunca teria acontecido. Servira apenas para atenuar o drama das execuções e dar um desfecho mais ameno à história.
Capote se julgava dono do gênero que resolveu chamar de non-fiction novel (romance sem ficção, como prefere traduzir Ivan Lessa, na apresentação). Ou seja, qualquer indivíduo que se aventurasse por este terreno deveria, ao menos, agradecê-lo pela porta aberta. Quem não o reconhecia como precursor - Norman Mailer, Gore Vidal e Bob Woodward, por exemplo - virava desafeto. Havia muito de vaidade e marketing pessoal nesta atitude aparentemente egoísta. E uma certa negação ao passado recente: John Hersey, Rebecca West, Lilian Ross, Joseph Mitchell e um punhado de outros escritores já tinham feito reportagens com jeito de romance.
De certa forma, a expressão cunhada por Capote acaba reforçando uma inverdade: a de que o jornalismo, puro e simples, está condenado à escrita burocrática. Parece que, quando o texto atinge determinada qualidade, incorpora obrigatoriamente o adjetivo literário. Nem sempre. Até que provem o contrário, as 400 páginas de Capote são apenas jornalismo. Da melhor espécie. Assim como Hiroshima, de Hersey, e Os exércitos da noite, de Mailer, A sangue frio não precisa tomar um sobrenome emprestado da literatura para ganhar o carimbo de obra de arte.
O testemunho da primeira execução
O carrasco pigarreou (...) e Hickock, conduzido por um assistente, subiu os degraus do cadafalso. ''O Senhor dá, o Senhor tira. Bendito é o nome do Senhor'', entoou o capelão, enquanto o som da chuva se acelerava, enquanto o laço era ajustado e enquanto uma delicada máscara negra era ajustada ao redor dos olhos do prisioneiro. ''Que o Senhor tenha piedade de sua alma.'' A porta do alçapão se abriu, e Hickock ficou pendendo da forca diante de todos por vinte minutos, até o médico da prisão finalmente anunciar: ''Declaro que este homem está morto.''

A imprensa se repensa
[04/OUT/2003]

in JB Online http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernos/ideias/2003/10/03/joride20031003002.html

Aqui fica uma sumária informação sobre "In Cold Blood":

Truman Capote In Cold Blood
While Capote began as a novelist, his journalistic ability gave him a voice as a writer. His chilling recreation of the Clutter murder, investigation, and dispensation remains a classic example of Literary Nonfiction. In spite of his protestations, some discrepancies with facts has been questioned. Yet the time and effort of both research and writing, in addition to waiting for the killers' execution, remain a testimony to his skill. In Cold Blood was the blockbuster which established Capote as a member of the literati as well as helping to start the writing now labelled as Literary Nonfiction.

Works By Truman Capote:
Other Voices, Other Rooms. New York. 1948.
A Tree Of Night. New York. 1949.
Local Color. New York. 1950.
The Grass Harp. New York. 1951.
The Grass Harp (the play). New York. 1952.
The Muses Are Heard. New York. 1956.
Breakfast At Tiffany's. New York. 1958.
Observations. New York. 1959.
Selected Writings. New York. 1963.
In Cold Blood. New York. 1965.
A Christmas Memory. New York. 1966.
The Thanksgiving Visitor. New York. 1968.
House Of Flowers. New York. 1968.
Trilogy. New York. 1969.
The Dogs Bark. New York. 1973.
Music For Chameleons. New York. 1980.

Também encontrei uma biografia de Truman Capote com informações sobre as suas principais obras:

American novelist, short story writer, and playwright. Capote gained international fame with his "nonfiction novel" IN COLD BLOOD (1966), an account of a real life crime in which an entire family was murdered by two sociopaths. The Louisiana-Mississippi-Alabama area provided the setting for much of Capote's fiction.
"Until one morning in mid-November of 1959, few Americans - in fact, few Kansans - had ever heard of Holcomb. Like the waters of river, like the motorists on the highway, and like the yellow trains streaking down the Santa Fe tracks, drama, in the shape of exceptional happenings, had never stopped there." (from In Cold Blood)
Truman Capote was born in New Orleans as the son of a salesman and a 16-year-old beauty queen, Lillie Mae Faulk. His father, Archulus "Arch" Persons, worked as a clerk for a steamboat company. Persons never stuck at any job for long, and was always leaving home in search for the new opportunities. The unhappy marriage gradually disintegrated, and Capote's parents divorced when he was four. The young Truman was brought up in Monroeville, Alabama. He lived some years with relatives, one of whom became the model for the loving, elderly spinster in several Capote's novels, stories, and plays. "Her face is remarkable - not unlike Lincoln's, craggy like that, and tinted by sun and wind," described Capote in A CHRISTMAS MEMORY (1966) his distant relative Sook, Nanny Rumbley Faulk. Sook was sixty-something, "small and sprightly, like a bantam hen..." Capote's mother, Lillie Mae, wrote letters and telephoned to her son, often crying that she had no money and no husband. When his mother married again, this time a well-to-do businessman, Capote moved to New York, and adopted his stepfather's surname.
In his childhood Capote made friends with Harper Lee, who portrayed him as Dill in her world famous novel To Kill a Mockingbird. "Dill was a curiosity. He wore blue linen shorts that buttoned to his shirt, his hair was snow white and stuck to his head like duckfluff; he was a year my senior but I towered over him. As he told us the old tale his blue eyes would lighten and darken; his laugh was sudden and happy; he habitually pulled at a cowlick in the center of his forehead." Capote started to write stories when he was only eight. He attended the Trinity School and St. John's Academy in New York, and the public schools of Greenwich, Connecticut, but ended his formal schooling at the age of seventeen. He found work at the New Yorker, and attracted attention with his eccentric style of dress. "... I recall him sweeping through the corridors of the magazine in a black opera cape, his long golden hair falling to his shoulders: an apparition that put one in mind of Oscar Wilde in Nevada, in his velvets and lilies." (Brendan Gill in Here at The New Yorker, 1975)
Capote's early stories were published in quality magazines and in 1946 he won O.Henry award. His first novel, OTHER VOICES, OTHER ROOMS (1948), depicted a boy, Joel Knox, growing up in the Deep South. Joel is "too pretty, too delicate and fair skinned". He seeks his father but falls into a relationship with a decadent transvestite. The book gained a wide success and arose controversy because of its treatment of homosexuality. During this time Capote had already established his fame among the cultural circles as the thin voiced, promising young writer, who could brighten up parties with his sharp and clever remarks.
Next year Capote went to Europe, where he wrote fiction and non-fiction. Among his major works was a profile of Marlon Brando. Capote's travels accompanying a tour of Porgy and Bess in the Soviet Union produced THE MUSES ARE HEARD. Capote's European years marked the beginnings of his work for the theatre and films. In 1949 appeared A TREE OF NIGHT, which gathered together short stories which Capote had published in Harper's Bazaar, Mademoiselle, and other magazines. When the director John Huston was making The Asphalt Jungle (1950), Capote met Marilyn Monroe, who acted in the film. "With her tresses invisible, and her complexion cleared of all cosmetics, she looked twelve years old, a pubescent virgin who had just been admitted to an orphanage and is grieving her plight." (from Marilyn Monroe: Photographs 1945-1962 by Truman Capote)
In the 1950s Capote wrote THE HOUSE OF FLOWERS, a musical set in West Indies bordello. Capote's lyrical style and melancholy marked his novel THE GRASS HARP (1951). In the story an orphaned boy and two old ladies observe life from a china tree. Eventually they come down from their temporary retreat, unlike Cosimo Piovasco di Rondò in Italo Calvino's novel The Baron in the Trees (1957). The book was adapted into screen in 1996, starring Piper Laurie, Sissy Spacek, and Walter Matthau. Capote's first important film work was collaboration with John Huston on Beat the Devil (1954).
Following return to the United States, Copote wrote BREAKFAST AT TIFFANY'S (1958). The central character, Holly Golightly, is a young woman, who comes to New York seeking for happiness. She has a nameless cat and a brother named Fred. The nameless narrator is an aspiring writer, who has the same birthday as Capote (September 30) and who follows Holly's life, filled with colorful characters. "What I've found does the most good is just to get into a taxi and go to Tiffany's. It calms me down right away, the quietness and the proud look of it; nothing very bad could happen to you there..." The novel is constructed as a memory of events, that happened about 15 years earlier. Holly has left the country before the end of the war, and the narrator has not seen her since. The book was made into a successful film, starring Audrey Hepburn and directed by Blake Edwards. George Axelrod updated the story to the 1960s and later told: "Nothing really happened in the book. All we had was this glorious girl - a perfect part for Audrie Hepburn. What we had to do was devise a story, get a central romantic relationship, and make the hero a red-blooded heterosexual."
Increasing preoccupation with journalism formed basis for Capote's bestseller In Cold Blood, a pioneering work of documentary novel or "nonfiction novel". The work started from an article in The New York Times. It dealt with the murder of a wealthy family in Holcomb, Kansas. Sponsored by the magazine, Capote interviewed with Harper Lee local people to recreate the lives of both the murderers and their victims. The research and writing took six years to finish. Capote used neither tape recorder nor note pad, but emptied his interviews and impressions in notebooks at the end of the day. He also recorded last days of the death-obsessed criminals. (See Norman Mailer's journalistic works The Armies of the Nigh, Miami and the Siege of Chicago, Of Fire on the Moon.) Richard Brooks' screen adaptation of the book, with its black-and-white photography, avoided all sensationalism. The trial scene was re-enacted at the Finney County Court House in the Garden City, where the actual trial had taken place. Brooks also used the real jury who had convicted Perry Smith and Dick Hicock.
Among Capote's other works from the 1960s is the classic A Christmas Memory, a story about a seven-year-old boy, Buddy, his cousin, an eccentric old lady, and a tough little orange and white rat terrier called Queenie. Buddy and his cousin are each other's best friends, whose special relationship is symbolized by baking of fruitcakes, a kind of a Proustian Madeleine remembrance. The story gained a huge success as a television play. After the publication of In Cold Blood, Capote planned to write a Proustian novel to be called "Answered Prayers". However, problems with drink and drugs, and disputes with other writers, such as Gore Vidal, exhausted Capote's creative energies.
In interviews, Capote negative anecdotes about the people he knew distanced him from his friends. "I had a big discussion with Saul Bellow about Richard Wright," Capote said in 1974. "I said, Richard Wright was a good friend of mine and do you know what Saul Bellow said? He said, "Huh! Well, Wright just became a victim of these heavyweight intellectuals. I used to see him carting around books on Wittgenstein. He was convinced he was an intellectual." I thought that was very sad and pathetic." (The Critical Response to Truman Capote by Joseph J. Waldmeir, 1999)
Answered Prayers remained unfinished, but three stories from novel appeared in Esquire in the 1970s, and the surviving portions were republished in 1986. The autobiographical book presented such real-life as Colette, the Duchess of Windsor, Montgomery Clift, and Tallulah Bankhead, but its depiction of the smart set was characterized in The New York Times as "a socio-pornographic ''Ragtime'' rife with the low cackle of camp." MUSIC FOR CHAMELEONS (1981) was a collection of short pieces, stories, interviews, and conversations published in various magazines. Truman Capote died in Los Angeles, California, on August 26, 1984, of liver disease complicated by phlebitis and multiple drug intoxication.
For further reading: Truman Capote's "In Cold Blood": A Critical Handbook, ed. by Irving Malin (1968); The Worlds of Truman Capote by William L. Nance (1970); Sextet: T.S. Eliot and Truman Capote and Others by J. M. Brinnin (1982); Truman Capote: A Biography by Gerald Clarke (1988); Truman Capote: A Study of the Short Fiction by H. Garson (1992); Truman Capote's Southern Years by Marianne M. Moates & Jennings Faulk Carter (1996); Truman Capote: In Which Various Friends, Enemies, Acquaintances, and Detractors Recall His Turbulent Career by George Plimpton (1997); Critical Essays on Truman Capote, ed. by Joseph J. Waldmeir (1999); The Critical Response to Truman Capote ed. by Joseph J. Waldmeir (1999); The Southern Haunting of Truman Capote by Marie Rudisill, James C. Simmons (2000) - Quote: "In California everyone goes to therapist, is a therapist, or is a therapist going to a therapist." - See also: Harper Lee (Capote's childhood friend); Carson McCullers
Miriam. Mankato, MN. 1982.
One Christmas. New York. 1982.

Saiu uma crónica na revista do “Xis” do Público de hoje que achei que teria interesse para nós. Outra leitora fascinada pelo narrador/osga… Transcrevo-a na íntegra:

CRÓNICA de Faíza Hayat - Conversas com o espelho - “Osga real”

Uma osga, colada ao cristal da jane­la, olha a melancolia da tarde, fecha­da no corpo e fechada em casa. Não pode abandonar a espécie nem pode abandonar o sítio. Ali está, fazendo o melhor possível da sua nova vida, uma vida de osga, em Luanda, uma vida de alguém que já viveu em cor­po de homem. Todos, em redor des­ta osga, olham para o seu passado ­o que não têm mas, precisamente, o que lhes faz mais falta. A osga habi­ta a casa de Félix, um albino que ven­de memórias sob a forma articulada de biografias. Félix é um vendedor de passados: "Dê aos seus filhos um passado melhor", oferece o albino no seu cartão de visita.
A osga vê. E ri. Pertence a uma es­pécie rara de osgas que consegue esboçar um sorriso. O passado é o único tempo que conhecemos bem em nós. Tudo o resto é incerto e es­tá por acontecer - uma promessa, uma profecia, um desejo. Um além. O passado é a nossa única certeza pe­rante nós e perante os outros - nem que seja um passado mentiroso. A mentira é irrelevante. A memória é que nos sustenta. Mas não há me­mórias verdadeiras, como sabe Jo­sé Eduardo Agualusa. Acabo de ler o seu "Vendedor de Passados". Sou uma leitora fiel, confesso, do escri­tor angolano. Não conheço todos os seus livros mas conheço a maior parte. O suficiente para arriscar di­zer que este é o seu romance mais in­teligente. De certo modo, também, o mais incómodo: se a nossa realida­de é uma ficção, não se trata de ser­mos autênticos; temos apenas de ser convincentes. Se não conseguirmos - desgraça! - precisamos de pagar a alguém que minta por nós. Como os clientes de Félix.
O narrador deste romance apenas poderia ser uma osga: um bicho dis­creto, transparente e limpo, ágil mas frágil. A osga de Agualusa não tem medo da metamorfose. Tem apenas medo de lacraus. O seu corpo é ape­nas o suporte a partir do qual pode espreitar e sonhar. É um jogo apai­xonante, este: alguém, um alguém ­bicho, tão repugnante como um rép­til, guarda do humano o passado que já não consegue tocar, enquanto, pe­la casa, gente vai surgindo e desapa­recendo. Desaparece por paixão, en­golida pela pele e pelo passado que lhe ( s) arranjam. Félix é filho adopti­vo de um alfarrabista. O seu mundo é a sua biblioteca (livros, recortes, fo­tografias, estilhaços de passado que ele organiza por catálogo). Jorge Luis Borges está aqui. Arriscaria di­zer que Borges, o próprio escritor, re­encarnou na osga Eulálio. Enquan­to houver livros, não precisamos de corpo. É o sonho (a biblioteca imen­sa que desaba em nós a cada noite) quem nos diz quem somos, ou me­lhor, quem podemos ser. Alguns dos mais belos capítulos do "Vende­dor de Passados" - com uma escrita exacta, de cadência curta, com uma tranquilidade sábia (Agualusa está a ficar maduro?!)- encontra-se na des­crição dos sonhos.
Eulálio, a certo ponto, recorda Cha­twin e a biografia do escritor britâ­nico feita por Nicholas Shakespeare (era escusada a prosaica referência à "tradução portuguesa da Quet­zal"...). Chatwin, além de grande escritor, ou por causa de o ser, foi um mentiroso genial. "Uma histó­ria não tem que ser verdadeira", di­zia ele, "tem apenas que ser boa". É possível viver assim. A Patagónia de Chatwin, ou a sua Austrália aborí­gene, não existem. Mas milhares de pessoas procuram-nas - e encon­tram-nas! - todos os anos, de mochi­la às costas e um catálogo de mitos que mantêm o culto de Chatwin vi­vo. É um pouco assim a nova Angola que Agualusa nos revela no seu no­vo romance, por absurdo: uma socie­dade pode canibalizar a realidade a tal ponto que não resta outra saída senão comprar o passado. Para viver a dignidade da mesma forma que se consome um estupefaciente. Há o perigo da alienação, claro. Mas há a vertigem de ser feliz, encontrando a vida, uma vida, de onde surgimos.
Gosto deste livro por ainda mais um detalhe: é raro encontrar escritores que revelem um conhecimento mí­nimo do que são (ou do que querem) as mulheres. Não sei quem ensinou a Agualusa. Parece-me que ele apren­deu o essencial: não se trata de cha­mar-nos gazelas ou garças. Isso qual­quer homem pode fazer. Trata-se de nos mentir com talento. Como Félix sabe fazer - é por isso que a garota do livro acaba por entregar-se ao "ven­dedor de passados".

faiza.hayat@xis.publico.pt

terça-feira, 20 de julho de 2004

Discussão de “O Vendedor de Passados”, de José Eduardo Agualusa


Começámos por dar uma opinião geral sobre o livro e, consensualmente, considerámo-lo bastante bom. Permite uma leitura muito fluida e agradável.

Talvez o elemento que mais nos tenha cativado foi a escolha do narrador – Eulálio, a osga-tigre. Considerámos muito original, tanto pelo efeito de surpresa que provoca (de início o leitor não se apercebe de que o narrador é um animal, mais concretamente uma osga, e o facto de, a uma determinada altura, tudo começar a fazer sentido é mais um factor que aumenta o prazer da leitura). De facto, uma osga constitui um observador privilegiado – a sua capacidade de se fixar às paredes ou ao tecto permite-lhe um ponto de vista distanciado, mais objectivo, e o facto de passar despercebida permite que veja sem ser vista. No entanto, não deixa de estar implicada na narrativa. Logo desde a primeira página do romance, ela começa a estabelecer uma relação muito especial com o protagonista Félix Ventura, tornando-se na sua melhor ouvinte. Os “diálogos” entre as duas personagens são bastante unilaterais, na medida em que a única hipótese de resposta da osga consiste no emitir de gargalhadas (ficou por apurar se esses animais têm mesmo a capacidade de emitir alguma espécie de som) mas ainda assim é feed-back suficiente para que Félix escolha a sua companhia: “Desde essa altura, depois de me ter ouvido rir, chega mãos cedo. (…) Conversamos. Ou melhor, ele fala, e eu escuto. Ás vezes rio-me e isso basta-lhe. Já nos liga, suspeito, um fio de amizade”(p.15).

Temos ainda, em alguns capítulos, vislumbres da vida passada da osga, enquanto humano. Segundo o próprio Agualusa, em entrevista transcrita no blogue, o narrador/osga é uma reencarnação de Jorge Luis Borges, e alguns dos elementos biográficos referidos são inspirados na própria biografia do consagrado autor. Aliás, uma bonita citação de Borges precede a obra: “Se tivesse que nascer outra vez escolheria algo totalmente diferente. Gostaria de ser norueguês. Talvez persa. Uruguaio não, porque seria como mudar de bairro.” Não sabemos se Borges gostaria de ter renascido osga africana, mas é, decerto, totalmente diferente…

Existe ainda um outro espaço na narrativa onde as personagens humanas e Eulálio se encontram, e onde é possível o diálogo entre elas. – o espaço do sonho. Félix e Eulálio encontram-se no Sonho nº3, pp. 89-93, e no Sonho nº 4, pp. 103-105. E José Buchmann e Eulálio encontram-se no Sonho nº 5, pp 155-160, e no Sonho nº 6, pp. 219-223. São estes momentos oníricos que nos permitem um conhecimento mais profundo das personagens humanas. Uma citação da obra permite-nos uma melhor compreensão da função narrativa do sonho na obra: «“Deus deu-nos os sonhos para que possamos espreitar o outro lado”, disse Ângela Lúcia. “Para conversarmos com os nossos mais-velhos. Para conversarmos com Deus. Eventualmente, com osgas.”» (p. 93).

Por todos estes motivos considerámos a osga um dos narradores mais deliciosos de que nos lembrámos. Trata-se de uma estratégia narrativa muito original e muito bem trabalhada.

A propósito de “bem trabalhada” questionámo-nos se Agualusa teria demorado muito tempo a escrever esta obra e se a sua escrita tinha sido fluida ou teria tido necessidade de trabalhar muito o texto. Algumas opinaram que os textos que parecem mais simples são, por vezes, aqueles que mais trabalho requerem e que, essa simplicidade é apenas aparente. E, de facto, pela forma cuidadosa como está estruturado e pelo ritmo tão fluído das palavras, parece-nos que o texto mereceu especial atenção.

Também a propósito de ritmo, foi referido que existem dois ritmos completamente distintos na narrativa. O que perpassa o texto quase todo é um ritmo calmo, gingão, africano, em que pouco acontece, em que as personagens são muito mais importantes que os acontecimentos e em que estas valem por si próprias. Depois, na parte final da obra, o ritmo acelera, torna-se quase trepidante, temos um desenrolar frenético de acontecimentos em que tudo se precipita e em que, finalmente, percebemos que as personagens se encontram inter-ligadas por acontecimentos passados e que foi uma espécie de providência que as reuniu no espaço da casa do albino Félix Ventura.

A outra ideia muito original que mais agradou às leitoras foi a ideia de um homem que fabrica e vende passados. É um homem que providencia a quem necessita (geralmente políticos e personalidade influentes do país) um passado ilustre e decente. Esse homem é, curiosamente, ele próprio um homem sem passado. Ele foi abandonado em bebé à porta de um alfarrabista que o criou como se fosse seu filho. É, a todos os níveis, uma personagem excepcional. É-o fisicamente pelo que o seu aspecto físico tem de sinistro: é um negro albino. E é-o especialmente pela sua capacidade de efabulação. É senhor de uma imaginação prodigiosa para a ficção, aliada a uma escrupulosa minúcia na procura de dados reais que dão verosimilhança às vidas que inventa. Ele é, no fundo, um autor, na medida em que cria personagens fictícias as lança no mundo, à mercê do seu próprio destino. Afirma Félix: “Acho que aquilo que faço é uma forma avançada de literatura”, confidenciou-me. “Também eu crio enredos, invento personagens, mas em vez de os deixar presos dentro de um livro dou-lhes vida, atiro-os para a realidade”. (p. 91). Aliás, o tema principal que perpassa a obra é a relação entre a realidade e a ficção.
“ A realidade é dolorosa e imperfeita” dizia-me, “é essa a sua natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. Quando algo nos parece muito belo pensamos que só pode ser um sonho e então beliscamo-nos para termos a certeza de que não estamos a sonhar – se doer é porque não estamos a sonhar. A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros.” (p. 122).
Intimamente ligada à ideia da realidade versus a ficção está a ideia de verdade e mentira que é aqui também um dos principais vectores que atravessa a obra.
Uma das noções mais interessantes sobre o tema surge através de uma recordação de Félix do discurso de um autor, aquando da publicação do um seu livro: “a grande diferença entre as ditaduras e as democracias está em que no primeiro sistema existe apenas uma verdade, a verdade imposta pelo poder, ao passo que nos países livres cada pessoa tem o direito de defender a sua própria versão dos acontecimentos. A verdade, disse, é uma superstição.” (p. 91) Um pouco antes disto afirma: “A literatura é a maneira que um verdadeiro mentiroso tem para se fazer aceitar socialmente” (p. 91) A literatura é então uma arte socialmente aceite de criar mentiras.
Os clientes mais habituais de Félix Ventura, em busca de um passado honroso são os políticos, numa crítica evidente à hipocrisia e tentativa por parte da classe política angolana de branquear o seu passado sangrento e indigno. Como foi notado, é curioso que o capítulo em que é descrito o ministro seja imediatamente precedido pelo capítulo em que surge o lacrau…

Uma manifestação artística da ideia de que a verdade é múltipla e que é tanto mais rica quanto mais pontos de vista estiverem presentes é a obra do artista plástico britânico David Hockney. Ele é referido na obra quando Félix compara o efeito provocado pelo conjunto das fotos que lhe vai enviando Ângela Lúcia do mundo inteiro coladas na parede da sala de jantar às experiências de David Hockney com polaróides. Tivemos oportunidade de observar uma impressão de uma dessas obras, “Pearblossom Highway”, onde figura a imagem de uma estrada numa paisagem desértica. O interessante desta imagem é que é constituída por centenas de fotografias polaróide, coladas num enorme painel. Temos então uma “realidade” construída através de fragmentos de outras realidades, captadas a horas diferentes, de perspectivas diferentes. O resultado da soma de cada uma dessas pequenas partes transcende-as completamente, originando uma ficção. É assim, talvez, que também nós observamos a realidade: justapondo os fragmentos que vamos observando. Assim, a nossa percepção das coisas e das pessoas não é muito diferente da colagem de David Hockney – um acumular de perspectivas, factos e pormenores que nos permite uma macro-visão necessariamente ficcionada. E tal como, ao ler um livro somos obrigados a preencher os espaços em branco constituídos por tudo aquilo que não é descrito pelo autor, também a nossa visão do mundo nos obriga constantemente a preencher silêncios e a imaginar um todo que só existe para nós.
A capacidade de “re-ligar” o real, de ver a realidade como um todo a que todos os fragmentos de vida pertencem, é uma qualidade apenas das pessoas mais alienadas, dos loucos: “Todas as histórias estão ligadas. No fim tudo se liga.” Suspira: “Mas só alguns loucos, muito poucos e muito loucos, são capazes de compreender isso.” (p. 215).

Comentámos o conceito de felicidade veiculado na obra: “A felicidade é quase sempre uma irresponsabilidade. Somos felizes durante os breves instantes em que fechamos os olhos. (p. 123). Os momentos felizes são aqueles em que nos desligamos das responsabilidades do mundo (e do mundo em si mesmo?). Se só somos felizes nos momentos em que fechamos os olhos, isolando-nos assim do que nos rodeia, será a felicidade um sentimento solitário, a fruir individualmente? Ou então esses momentos são tão intensos que precisamos de nos recolher momentaneamente para melhor os viver.
Fica claro também que não se é sempre feliz, temos momentos felizes. Somos felizes “para sempre” quando esse sentimento é tão pleno que nos parece eterno. (cf. p. 117).

Resta-nos terminar com uma frase que é repetida n’”O Vendedor de passados” – “o pior pecado é não amar” e terminar com um poema de Vinicius de Moraes, o “Soneto da Felicidade”, onde fica a ideia de que é imperioso viver cada momento feliz como se fosse eterno:

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei-de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

sexta-feira, 16 de julho de 2004

Recebi um simpático e-mail da Raquel, comentando o nosso blogue. Aqui o transcrevo, dando-lhe as boas vindas e desejando que colabore no blogue sempre que deseje. E, Raquel, estás desde já "intimada" a comentar aqui o "Middlesex" e o "Madona" quando acabares a leitura.
O "Código Da Vinci" não será escolhido no clube pois a Jennifer já o leu, mas como acho que suscitará o interesse de muitas (o meu inclusivé, que vou ter mesmo que o ler, tendo em conta que tanta gente que conheço ficou "agarrada" a ele)também podemos ir "postando" os comentários à sua leitura. Entretanto amanhã cá estaremos para discutir o delicioso "Vendedor de Passados", de José Eduardo Agualusa.

Queridas amigas,

Visitei hoje, pela primeira vez, o vosso blogspot e não podia deixar passar
a oportunidade de vos felicitar pelo mesmo. Está muito interessante e sinto
que assim, de alguma forma, poderei partilhar um pouco do vosso clube de
leitura. Para começar, já me despertaram o interesse para ler especialmente
dois livros: Madona e Middlesex. Este último era-me totalmente desconhecido
até vocês mo terem dado a conhecer (humildemente reconheço a minha
ignorância...) e espero que venha a ser uma das minhas leituras de Verão.
Quanto ao livro da Natália Correia, tenho-o há cerca de dois anos na minha
estante, a olhar para mim, a tentar seduzir-me, mas ainda não tinha sentido
o impulso vital que o tirasse do seu lugar na prateleira para o assento VIP
da minha mesinha-de-cabeceira. Acho que vai ser desta. Graças a vocês.

Neste momento estou a ler The Da Vinci Code. Pois é, aderi à febre. E devo
dizer que é mesmo viciante. Aconselho-vos vivamente. Lê-se sofregamente e dá
muito que pensar. Entre a realidade e a ficção, coloca em causa muito do que
aceitamos (alguns de nós apenas, bem sei) desde sempre como verdades de fé
inquestionáveis. E, afinal, tudo passa por saber se a nossa fé se mantém
inabalável ou se começa a ser arranhada...

Numa vertente mais estética, devo dizer-vos que, para mim, pelo menos, tem
sido um desvendar da obra de Leonardo Da Vinci numa perspectiva totalmente
nova. Nunca mais olharei para os seus quadros da mesma forma e penso que
vocês também não. Eu parecia uma maluca a ler o livro com outro de História
de Arte aberto à minha frente para confrontar os pormenores. Giríssimo.

Não digo mais nada sobre o livro, porque o interessante é embrenharmo-nos
por ele dentro e deixarmo-nos pasmar com as surpresas que o mesmo nos traz.
Ainda não cheguei ao fim, e estou curiosíssima por saber o desfecho, mas bom
mesmo é a viagem que empreendemos até lá.

Para terminar, porque gosto muito de Sophia de Mello Breyner Andresen
(lembram-se do marcador de livros que oferecemos no nosso casamento?),
deixo-vos com as palavras de Miguel Sousa Tavares , a propósito da perda da
sua Mãe:
"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde
verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos
instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os
amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi
nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

terça-feira, 13 de julho de 2004

Se quiserem conhecer o Eulálio vão a:

http://thegeckoking.www3.50megs.com/pages/ptigrinus.html

lindinho, não é?

sexta-feira, 9 de julho de 2004

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen