A Derrocada da Baliverna, Dino Buzzati
Terceiro livro de contos. Na história que dá o título ao livro, um homem vulgar decide-se a escalar clandestinamente a parede da Baliverna, um velho mosteiro degradado e transformado em refúgio de vagabundos e bandidos. Essa acção imponderada é punida com a derrocada de todo o edifício, provocando o terror do castigo subsequente. Em «Encontro com Einstein», descobrimos que é o próprio Diabo quem secretamente incentiva as descobertas científicas do génio. Em histórias como «Rigoletto», ou «A Máquina» são os próprios objectos, as máquinas modernas, que em confronto com o mundo dos mitos e da natureza, assumem uma personalidade autónoma que incarna todos os aspectos negativos do Homem: vaidade, inveja e crueldade. Assim é o terceiro volume de contos publicado pelo autor (depois de «Os sete mensageiros» e «Pânico no Scala»), «A derrocada da Baliverna», é apontado pelo público e pela crítica como um dos livros mais conseguidos na carreira de Dino Buzzati.
«...recolha de 37 narrativas, onde [Dino Buzzati] dá sequência ao seu estilo e tom habituais, criando histórias de inquietude, desalento, mistério e horror. Mas também de suspense, aproximando-se do fantástico, do absurdo e do surreal.»Revista LER
Ler Lolita em Teerão, Azar Nafisi (já proposto no mês passado)
O "pacote indiano" - proposta da leitura conjunta dos dois seguintes livros:
O Tigre Branco, Aravind Adiga
Romance de estreia, entrou de imediato nas preferências dos críticos, que o classificaram como “uma estreia brilhante e extraordinária”. O livro revela uma Índia ainda muito pouco explorada pela ficção, a Índia negra, violenta e exuberante das desigualdades socioculturais. Toda a obra é uma longa carta dirigida ao Primeiro-Ministro chinês, escrita ao longo de sete noites. O autor da carta apresenta-se como o tigre branco do título, e auto-denomina-se um “empreendedor social”. Descrevendo a sua notável ascensão de pobre aldeão a empresário e empreendedor social, o autor da carta, Balram, acaba por fazer uma denúncia mordaz das injustiças e peculiaridades da sociedade indiana. Fica assim feito o retrato de uma sociedade brutal, impiedosa, em que as injustiças se perpetuam geração após geração, como uma ladainha que se entoa incessantemente ao ritmo de uma roda de orações. São muito poucos os animais que conseguem abrir um buraco na vedação e escapar ao destino do cárcere eterno. O Tigre Branco é um deles.
Nocturno Indiano, Antonio Tabucchi
Uma conjectura do autor é a de que este livro poderia servir de guia a um amante de viagens absurdas absurdas. E não deixa de ser absurda esta busca de um amigo que desapareceu, sombra que pertence a um passado também ele conjectural, numa Índia que se conhece quase só através de quartos de hotel, de hospitais, de estações de caminho caminho-de de-ferro ferro. Uma Índia que todavia transparece em conversas com profetas nómadas, Jesuítas portugueses, prostitutas de Bombaim, uma repórter que fotografa a miséria de Calcutá Calcutá. Mas este misterioso balletde sombras é sobretudo um hino às faculdades criativas da linguagem, pois é graças a uma palavra evocada em várias línguas que o viajante se aproxima daquele que procura. E é graças à escrita que esta viagem se transforma em livro, passa da insónia ao sonho e do sonho ao texto texto.
O Regresso, Bernhard Schlink
Pelo autor de O Leitor, um dos mais aclamados romances alemães.
A viver com a mãe na Alemanha do pós-guerra, o pequeno Peter passa as férias de Verão em casa dos avós, na Suíça. Responsáveis pela edição de uma colecção de livros, os avós dão ao neto o papel usado nas provas, em cujo verso ele pode escrever mas cujas histórias está proibido de ler. Um dia, Peter desobedece e descobre o relato de um prisioneiro de guerra alemão que, após ter enfrentado inúmeros perigos para fugir aos seus captores e regressar a casa, descobre que, durante a sua ausência, a mulher constituíra uma nova família. Mas Peter já tinha usado as páginas finais para fazer os trabalhos de casa e fica sem saber como termina a aventura. Anos depois, já adulto, decide procurar as páginas desaparecidas; uma busca que se altera por completo quando descobre que o seu pai, um soldado alemão que ele sempre acreditou ter morrido na guerra, pode ainda estar vivo. Sob o encantamento da sua própria história de amor, e à medida que começa a deslindar o mistério do desaparecimento do pai, Peter vê-se obrigado a questionar a sua própria identidade e a enfrentar o facto de a realidade ser, por vezes, um reflexo das expectativas dos outros.
Suttree, Cormac McCarthy
«O estilo balança entre dois registos. Um é o viril stacatto pós-Hemingway, em que as frases solitárias calçam as botas e fazem cara feia... (...) O outro é a sonoplastia neobíblica que resgata a sedutora inarticulação de Huck Finn (e de Whitman) e a promove a uma encantação hipnótica...»Rogério Casanova, Expresso, actual
O Príncipe Negro, Iris Murdoch
"O Príncipe Negro" é uma história de amor. Mas como seria de esperar de Iris Murdoch é, ao mesmo tempo, um emocionante "thriller" intelectual, uma meditação sobre arte, o amor e deus.Bradley Pearson, o narrador, é um escritor com um «bloqueio». Rodeado de amigos e familiares vorazes - a sua ex-mulher e o cunhado delinquente, a irmã, um escritor de sucesso mais novo, Arnold Baffin, bem como a sua esposa - Bradley procura escapar a esse cerco social para escrever a obra da sua vida. O seu fracasso dá origem a um clímax violento e a um final que coloca tudo numa nova perspectiva.
«Murdoch crê no amor como caminho para o conhecimento (e o verdadeiro conhecimento é necessariamente bom). (...) E "como ser bom?" é a interrogação ontológica radical que trespassa toda a obra de Iris Murdoch. Colocada, claro, com ironia e recorrendo a personagens a quem gostamos de tratar pelo nome. Um grande livro.»Ana Cristina Leonardo, Expresso, actual
«...apurado sentido crítico que permite a construção de situações e personagens únicos e onde o humor e a ironia andam de par.»Revista LER
Dom Casmurro, Machado de Assis
A história de Bento Santiago (Bentinho), apelidado de Dom Casmurro por ser calado e introvertido. Em adolescente apaixona-se por Capítu, abandonando o seminário e, com ele, os desígnios traçados por sua mãe, Dona Glória, para que se tornasse padre. Casam-se e tudo corre bem, até o amor se tornar ciúme e desconfiança. É esta a grande questão que magistralmente Dom Casmurro expõe ao longo de 148 capítulos: a dúvida que paira ao longo de toda a obra sobre a possibilidade de traição de Capítu, agravada pela extraordinária semelhança do filho de ambos, Ezequiel, com o grande amigo de Bentinho, Escobar.
A Ofensa, Ricardo Menéndez Salmón
Se o corpo é a fronteira entre cada um de nós e o mundo, como pode o corpo defender-nos do horror? Quanta dor pode um homem suportar? Pode o amor salvar aquele que perdeu a esperança? São estas algumas das perguntas implícitas em "A Ofensa", a história de Kurt Crüwell, um jovem alfaiate alemão empurrado pelo nazismo para o vórtice de uma experiência radical e insólita. Metáfora de um século trágico, viagem vertiginosa às raízes do Mal, este livro afirmou Ricardo Menéndez Salmón como um dos grandes nomes da jovem ficção espanhola.Finalista do Prémio Salambó e do Prémio Nacional da Crítica, além de ter sido considerado por vários órgãos da comunicação social como o melhor romance publicado em Espanha em 2007.
O Livreiro de Cabul, Asne Seierstad
Trata-se de um dos maiores best-sellers de todos os tempos na Noruega. Conta a história de uma jornalista, correspondente de guerra que, após ter feito a cobertura da ofensiva da Aliança do Norte contra os taliban, se dirigiu para Cabul onde conheceu Sultan Khan, o mais importante livreiro do seu país e também o mais antigo com 30 anos de negócio.
O Japão é um lugar estranho, Peter Carey
Viagem de Um Pai com o Seu Filho ao País da Manga e do Anime
Peter Carey percorre a Tóquio moderna e entrevista os protagonistas da cultura da «manga», procura respostas impossíveis, naquele estilo levemente ébrio que nos faz nunca perder a sua prosa.
Escrito com a destreza narrativa de um romancista de créditos firmados (vencedor do Booker Prize por duas vezes), este livro traz em si, também, a urgência da reportagem e a capacidade de observação do melhor jornalismo. Revela-nos aquilo a que muita gente ainda não terá dado a atenção necessária: que há uma nova geração de adolescentes ocidentais a crescer, nesta primeira década do século XXI, sob a influência da cultura popular japonesa. Peter Carey conduz o filho e é conduzido (levando-nos a nós também nessa viagem) pelos labirintos de uma cultura cheia de códigos mais ou menos impenetráveis para um estrangeiro. Uma cultura bem mais transparente para um adolescente familiarizado com os universos da manga e do anime do que para um adulto à procura de uma chave que se revela quase sempre «lost in translation».
Ganhou o "pacote indiano", pelo que leremos Tigre Branco/White Tiger, de Aranvid Adiga e Nocturno Indiano/Notturno Indiano, de Antonio Tabucchi. A próxima reunião terá, com certeza, um gostinho muito indiano.
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