domingo, 13 de fevereiro de 2005

Pois é… Desta vez ficámos sem uma “acta” decente da nossa última reunião… É que a discussão de “Oracle Night”, de Paul Auster, foi tão animada, tão caótica, que perdi completamente o fio à meada e fiquei com pouca vontade de escrever um resumo daquela verdadeira gritaria. E agora, passado tanto tempo, devo reconhecer que já nem seria capaz de reconstituir as discussões das quais fiz parte. Mas não queria deixar de referir que foi muito participada.

No geral, toda a gente aderiu muito bem à obra (porque é que me quer parecer que a opinião em relação a “Eu hei-de amar uma pedra” não será tão consensual?...), que constituiu uma leitura muito agradável. A Rita admitiu que se reconciliou um pouco com Auster, depois das suas últimas obras lhe terem parecido bastante inferiores às primeiras, sem o mesmo vigor. A Jennifer também gostou imenso, afirmando que é precisamente este tipo de livros, com enredos empolgantes, que mais aprecia ler. Eu, pela minha parte, devo dizer que gostei de ler o livro, tal como sempre me agrada a escrita do Paul Auster, mas houve algo nesta obra que não me satisfez. Nem queria acreditar quando virei a última página e me deparei com outra em branco. Ficou a faltar-me alguma coisa, como quando vamos a um desses restaurantes requintados de Nouvelle Cousine, saboreamos as iguarias que nos colocam à frente, muito bem apresentadas, mas no final da refeição… fica a apetecer-nos um ovinho estrelado para compor o estômago! Aquilo que me foi dado a provar no livro foi apreciado, mas venha de lá esse ovo, Sr. Auster!

E estou aqui a dar voltas à cabeça a tentar lembrar-me dos tópicos da discussão e já pouca coisa me ocorre (o mal é da minha pobre memória, não da reunião). Lembro-me que achámos muito curiosa aquela cave onde uma das personagens armazenava listas telefónicas. Pareceu-nos outro repositório de memória, como o “cemitério dos livros esquecidos” de Carlos Ruiz Záfon, em "A Sombra do Vento". Também me lembro que discutimos com algum pormenor “A noite do oráculo” enquanto meta-romance, ou seja um romance sobre romances, sobre o conceito de ficção, sobre a capacidade de criar mundos através da escrita, de ter o poder de conferir vida às personagens, ou deixá-las encerradas numa cave, trancadas, sem mais nenhuma alma viva, para além do leitor, a saber do seu paradeiro. E a capacidade da própria ficção gerar a realidade. O carácter mágico da criação literária, a palavra escrita a tornar verdadeiras as instâncias que cria, com aquele misterioso caderno azul, made in Portugal, e o poder que estabelece sobre quem nele escreve.

E pronto, perdoem-me as leitoras, mas já estou com a cabeça noutro romance, que vamos discutir de aqui a nada e em que, novamente, é levantado um pouco o véu dos mistérios da criação literária. E não é que amei mesmo a pedra?!

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