domingo, 10 de janeiro de 2010

Talvez se riam. Mas eu sustento a semelhança. Aquelle todo de Gonçalo, a franqueza, a doçura, a bondade, a immensa bondade que notou o Snr. Padre Sueiro… Os fogachos e enthusiasmos, que acabam logo em fumo, e juntamente muita persistencia, muito aferro quando se fila á sua ideia… A generosidade, o desleixo, a constante trapalhada nos negocios, e sentimentos de muita honra, uns escrupulos, quasi pueris, não é verdade?... A imaginação que o leva sempre a exaggerar até á mentira, e ao mesmo tempo um espirito pratico, sempre attento á realidade útil. A viveza, a facilidade em comprehender, em apanhar… A esperança constante n’algum milagre, no velho milagre d’Ourique, que sanará todas as dificuldades… A vaidade, o gosto de se arrebicar, de luzir, e uma simplicidade tão grande, que dá na rua o abraço a um mendigo… Um fundo de melancolia, apesar de tão parlador, tão sociavel. A desconfiança terrivel de si mesmo, que o acobarda, o encolhe, até que um dia se decide, e apparece um heroe, que tudo arrasa… Até aquella antiguidade de raça, aqui pegada á sua velha Torre, ha mil annos… Até aquelle arranque para Africa… Assim todo completo, com o bem, com o mal, sabem vocês quem elle me lembra?

- Quem?...

- Portugal.


Eça de Queirós, A ilustre casa de Ramires

1 comentário:

Anónimo disse...

Vimos por este meio convidar-te para mais uma Noite de Poesia no "D Café Bar". Serás muito bem-vinda, especialmente se quiseres partilhar connosco um poema, próprio ou alheio, um que seja (se mais não quiseres). Ou simplesmente ouvir. E (con)viver a poesia. Às Terças, no "D Café Bar": Noite de Poesia. Aparece.

"D Café Bar", sito na Rua Dr. Rodrigues Davim, n.º 44, Faro.