domingo, 10 de janeiro de 2010

Talvez se riam. Mas eu sustento a semelhança. Aquelle todo de Gonçalo, a franqueza, a doçura, a bondade, a immensa bondade que notou o Snr. Padre Sueiro… Os fogachos e enthusiasmos, que acabam logo em fumo, e juntamente muita persistencia, muito aferro quando se fila á sua ideia… A generosidade, o desleixo, a constante trapalhada nos negocios, e sentimentos de muita honra, uns escrupulos, quasi pueris, não é verdade?... A imaginação que o leva sempre a exaggerar até á mentira, e ao mesmo tempo um espirito pratico, sempre attento á realidade útil. A viveza, a facilidade em comprehender, em apanhar… A esperança constante n’algum milagre, no velho milagre d’Ourique, que sanará todas as dificuldades… A vaidade, o gosto de se arrebicar, de luzir, e uma simplicidade tão grande, que dá na rua o abraço a um mendigo… Um fundo de melancolia, apesar de tão parlador, tão sociavel. A desconfiança terrivel de si mesmo, que o acobarda, o encolhe, até que um dia se decide, e apparece um heroe, que tudo arrasa… Até aquella antiguidade de raça, aqui pegada á sua velha Torre, ha mil annos… Até aquelle arranque para Africa… Assim todo completo, com o bem, com o mal, sabem vocês quem elle me lembra?

- Quem?...

- Portugal.


Eça de Queirós, A ilustre casa de Ramires

sábado, 9 de janeiro de 2010

Casa da Torre da Lagariça


Ocupada desde tempos pré-históricos, a vila de Resende sempre esteve ligada à história da formação da nacionalidade. Segundo alguns autores, teria sido em Resende que D. Afonso Henriques foi criado sob a tutela de Egas Moniz, aludindo-se frequentemente ao milagre de Cárquere, no qual Nossa Senhora teria curado o futuro rei de Portugal de uma deformação nas pernas (DUARTE,J., 1994, pp. 543-552).
Independentemente das lendas locais, sabe-se que a honra de Resende foi instituída por D. Afonso Henriques a favor de Egas Moniz, depois da batalha de São Mamede. A sua região foi conhecendo um progressivo crescimento ao longo da Idade Média, atestado pelo conjunto de templos românicos edificados no seu concelho.
Da primeira metade do século XII data também a edificação da Torre da Lagariça, um robusto torreão militar de planta quadrada, que ficaria imortalizado na obra de Eça de Queiroz,
A Ilustre Casa de Ramires .
A fundação da torre teria como primeiro objectivo a defesa da linha do Douro na época da Reconquista, servindo de torre de atalaia, mas a sua função militar perdeu significado com o estabelecimento das fronteiras mais a norte. Como tal, no século XVI a torre seria adquirida pela família Pinto, senhores da Torre da Chã e do Paço de Covelas, e em 1610 voltaria a ser vendida, desta vez à família que ainda actualmente é sua proprietária.
Deverá datar do início do século XVII a adaptação da torre medieval a habitação senhorial, sendo então edificado um corpo de planimetria em L em volta do núcleo original, integrando-o num dos extremos da casa. O corpo do solar divide-se por três registos distintos e as fachadas são marcadas pela disposição de portas e janelas, de molduras rectangulares, tendo sido construída uma varanda alpendrada no piso superior na fachada principal. A torre não foi alterada, mantendo a planimetria original e as feições das suas fachadas, que se destacam pelo reduzido número de fenestrações.
A casa da Torre da Lagariça apresenta um modelo de linhas austeras e robustas, acentuando-se a verticalidade dos volumes, pontuada pela cércea da torre. Indiscutível é a harmonia estética de todo o conjunto, uma vez que a construção do solar seiscentista integrou de forma bastante coerente a torre medieval.
Catarina Oliveira
IPPAR/2006

Em todo o seu esplendor

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al-Khazneh, o Tesouro de Petra

(foto minha)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

terça-feira, 5 de janeiro de 2010