terça-feira, 9 de junho de 2009

Sugestões de Leitura para este mês de Junho

Vasto Mar de Sargaços / Wide Sargasso Sea, Jean Rhys

Antoinette Cosway é uma herdeira crioula nascida numa sociedade colonialista e opressiva. Conhece um jovem inglês que logo se deixa fascinar pela sua sensualidade e beleza, mas depois do casamento começam a circular estranhos rumores, que o envenenam contra ela. Apanhada entre as exigências dele e a sua própria sensação de precária pertença, Antoinette é levada à loucura. Inspirado pelo livro Jane Eyre, de Charlotte Brontë, tem como cenário a paisagem exótica da Jamaica dos anos 30. Tornou-se um clássico da literatura do século XX e foi adaptado ao cinema.
Jean Rhys é o pseudónimo de Ella Gwendolyn Rees Williams, nascida na Dominica em 1890, filha de um médico galês e de uma mãe crioula branca. Aos 16 anos foi para Inglaterra, onde foi manequim, modelo e rapariga de coro. Começou a escrever em Paris, aos 30 anos, quando o primeiro dos seus três casamentos terminou. Vanguardista de temas e forma, o seu trabalho foi ignorado a princípio e Jean deixou de escrever e de aparecer em público. Foi descoberta vinte anos mais tarde e escreveu a sua obra mais emblemática: Vasto Mar de Sargaços. Foi eleita Fellow da Royal Society of Literature e Commander of the British Empire, o mais elevado título britânico.


Letra e Música, Paulo Castilho

Nos anos 60, Mónica Mendes, com 18 anos, deixa Portugal e parte para Londres, onde inicia, com algum sucesso, uma carreira como cantora rock com o grupo "Mon And The Rainmakers". Mais tarde muda-se para os Estados Unidos e começa a cantar blues, tornando-se uma cantora considerada "de culto". Muitos anos depois, a sobrinha, Isabel, ao descobrir o diário de Mónica, quer saber mais sobre a tia, de quem a família não fala e que morreu cedo, deixando, além dos discos, alguns enigmas por decifrar. Num estilo coloquial e directo, quase cinematográfico, com frases curtas e uma ironia que perpassa em todo o livro, Paulo Castilho dá-nos o retrato de duas épocas e de dois grupos de pessoas cujas vidas, embora separadas por mais de três décadas, acabam por se cruzar.

Escrever enquanto todos dormem (triologia), João do Nascimento

A obra é composta por três histórias aparentemente distintas em que cada uma delas tem personagens e ambientes próprios, mas que funcionam como um todo, visto que todas elas são reflexo da mesma realidade, ou seja, a vivência humana naquilo que é tão mais profundo quanto vulgar. As ruas, os objectos e os hábitos estão sempre presentes. O que mais importante ressalta da narrativa é a matéria humana de cada personagem, com as suas dúvidas, preconceitos, desalentos, paixões e até o assumir de outras “personalidades”. Naprimeira história aborda-se a relação entre um filho e o pai, cuja acção se inicia no armário do quintal onde o pai guarda os seus livros de aventuras aos quadradinhos; na segunda, temos um cinéfilo que não consegue fazer a distinção entre a realidade da vida e o universo da ficção; na terceira história, um homem na crise meia-idade a viver no Alentejo, descobre-se como escritor na relação imaginária que estabelece com o personagem essencial do livro que nunca escreveu. Nas três histórias, as quais se desenrolam num espaço temporal das últimas três décadas, os tempos de acção das mesmas surgem intercalados, levando o leitor a viajar constantemente a diferentes fases da vida de cada um dos personagens.

Os lados do círculo, Amílcar Bettega

12 histórias do quotidiano - assim se poderia chamar Os Lados do Círculo. Porque é do quotidiano que Amilcar Bettega parte para a literatura.Mas a visão que nos dá do quotidiano não fica na superfície, no banal.Escritor que vê na forma o essencial da literatura, recria o quotidiano como artista mostrando-nos, por detrás da banalidade do dia-a-dia, a humanidade profunda dos seus personagens, nossos semelhantes.[...] O leitor sensível será recompensado por ver, reflectidos nas personagens, todos os seus medos e seus ridículos diários; compartilhará com elas a sua carga de humanidade e, se fizer uma leitura atenta e livre de preconceitos, será premiado com um afectuoso espelho de todas as suas inquietações.

A Ninfa Inconstante / La Ninfa Inconstante, Guillermo Cabrera Infante

Estela não tem dezasseis anos nem sequer um metro e sessenta. Nem tão pouco consegue entender o discurso desse crítico de cinema que se apaixonou por ela e que tem uma mulher que já não fica acordada à espera dele. Mas esta não é outra dessas histórias de amor em que um intelectual maduro cai na armadilha da beleza de uma ingénua adolescente. Estela tem um plano que é tudo menos inocente. Em pano de fundo, os boleros de uma Havana ruidosa e sensual. A Ninfa Inconstante mostra todas as facetas do estilo de Cabrera Infante: os jogos de palavras que tanto fascinavam esse infatigável explorador da linguagem, as suas referências cinematográficas e literárias, o gosto pelas expressões populares e o sentido de humor único que povoa as suas páginas.


Niassa, Francisco Camacho

Farto da vida que leva em Lisboa, um homem de trinta anos resolve partir para o Niassa, a região de Moçambique onde existe um dos maiores e mais enigmáticos lagos africanos, à procura do irmão que desapareceu em circunstâncias misteriosas e que ele mal conhece. A investigação do paradeiro de Rafa leva-o a peregrinar pelos sonhos de grandeza dos tempos coloniais, pela brutalidade da guerra civil moçambicana e pela história trágica da sua família, numa viagem ao imprevisto decorrida entre paisagens deslumbrantes. Niassa é uma história crua de amor e traição, amizade e sobrevivência, que evoca o passado português em África pelo olhar descomplexado das novas gerações.


O homem em queda / Falling Man, Don Dellilo

Começando no fumo e nas cinzas das Torres Gémeas em chamas, Homem em queda desenha as consequências deste tremor global na história íntima de vidas marcadas pela perda, pela dor e pela força imensa da História. A narração de um homem que escapa das torres, da sua ex-mulher e de um dos terroristas. Um romance corajoso e brilhante, comovente e catártico, que explica como os eventos do 11 de Setembro reconfiguraram a nossa paisagem emocional, a nossa memória e a nossa percepção do mundo.
"A escrita de Don DeLillo é crua, mas simultaneamente repleta de aditivos emocionais surpreendentes, fazendo com que o leitor acompanhe em profundidade os estágios evolutivos da cura deste casal, simbólicos da regeneração - ou não - da cidade de Nova Iorque e de toda uma sociedade que ainda hoje processa o 9/11." Susana Nogueira
«Se alguém podia escrever sobre o 11 de Setembro esse alguém era Don DeLillo. [...] Essa queda [do performer David Janiak], baseada na queda das Torres e nas pessoas que saltavam das Torres, é um acto de exibicionismo ou uma metáfora pertinente? Seja qual for a resposta, David Janiak é a imagem humanamente mais intensa do romance, ao mesmo tempo simbólica e concreta. Esta queda, repetida agora como um memorial e de certo modo um espectáculo, é a imagem que fica. A queda das Torres, a queda dos homens, e a queda de algumas noções sobre o mundo em que vivemos. O mundo novo em que vivemos.» Pedro Mexia, Público

Love, Tony Morrison

Heed, Christine, May, Junior, todas mulheres obcecadas pela presença de Bill Cosey, o famoso proprietário do Cosey's Hotel and Resort. Objecto de desejo e inspiração como marido, amante, protector e amigo, continua a dominar a vida destas quatro mulheres passados anos da sua morte. E quem é L? A misteriosa, insondável L que o vê como o homem que foi? L que sabe que, no vazio deixado nas suas histórias, existe um homem complicado e fascinante que esconde um segredo que poderia ter mudado as suas vidas para sempre. Uma poderosa e intensa análise sobre a natureza do amor - o desejo voraz, a posse sublime, a angústia que nos desperta -, que nos traz um universo de personagens de uma enorme força, personagens poderosas e provocadoras, quer no seu ódio quer no seu amor, que nos comovem e enfurecem, e mostra como o passado, mesmo depois de desaparecido, continua vivo.Uma obra notável de um dos maiores mestres da literatura universal, única, sublime, que não deixará ninguém indiferente.

Elegia para um Americano / The Sorrows of na American, Siri Hustvedt

Ao tentarem pôr ordem na casa do pai recém-falecido, Eric e a irmã, Inga, descobrem um bilhete de uma mulher desconhecida. Algo no teor desse bilhete indicia que um segredo do passado continuava a atormentar Lars. Erik vê na solução desse enigma o derradeiro acto de aproximação a um homem que nunca compreendeu, mas tanto a vida dele como a de Inga estão a atravessar fases muito complicadas. Inga, viúva de um escritor famoso, está disposta a tudo para defender a reputação do marido e reaproximar-se da filha, Sonia, terrivelmente marcada pela memória dos atentados do 11 de Setembro. Por seu lado, Erik materializa a sua própria solidão num mantra espontâneo que o embaraça mas em relação ao qual nada pode - "Sinto-me tão só", repete ele, mas poderiam ser todas as personagens desta Elegia a dizê-lo; nova-iorquinos solitários, perdidos no frenesim da grande metrópole, entregues aos seus segredos, memórias e sonhos, incapazes de qualquer acto de reconforto.

E a nossa leitura do momento é: Elegia para um Americano / The Sorrows of an American, de Siri Hustvedt.

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