domingo, 23 de novembro de 2008

Sugestões de leitura

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Como já seria de esperar, em época de rentrée literária, as sugestões de leitura foram muito interessantes e a escolha foi difícil.

Os livros propostos foram os seguintes:

- Flannery O’Connor, O céu é dos violentos (The Violent Bear It Away), Cavalo de Ferro

O livro narra a história de Francis Tarwater, um adolescente de 14 anos, que tenta a todo o custo escapar ao seu destino: tornar-se num profeta religioso, seguindo as pisadas do seu tio-avô. Quando este último morre, logo no início do romance, Francis renega os seus ensinamentos, põe fogo à propriedade rural onde ambos viviam e vai ao encontro do seu tio, Raybit e do filho deste, Bishop, uma criança mentalmente atrasada, cujo avô de Francis queria salvar através do baptismo. No entanto, Francis descobre que a força do destino se sobrepõe à sua nova vida secular e, através de um acto de extrema violência, reconcilia-se com a missão que lhe tinha sido traçada desde a infância pelo seu avô.

- Carlos Ruiz Zafón, O Jogo do Anjo (El Juego del Ángel), Dom Quixote

Na Barcelona turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais.
Com deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a amizade se conjugam num relato magistral.


- J. M. Coetzee, Diário de um mau ano (Diary of a Bad Year), D. Quixote

Uma muito atraente e ousada experiência entre a ficção e o ensaio.
Por encomenda do seu editor, um famoso escritor sul-africano radicado em Sydney, na Austrália, escreve um livro com as suas opiniões sobre os temas mais quentes do nosso tempo: conflitos étnicos, terrorismo, globalização, desastres ecológicos, experiências genéticas. Como já não écapaz de digitar os seus próprios textos, o velho escritor contrata uma vizinha, a jovem e sedutora filipina Anya, para transcrever as fitas onde grava as suas polémicas reflexões.
Diário de Um Mau Ano entrelaça esse «livro dentro do livro» com os relatos íntimos, na primeira pessoa, de Anyae do próprio escritor. O pessoal e o universal iluminam-se reciprocamente, colocando em evidência a dificuldade de comunicação entre a tradicional cultura humanista do velho autor e a energia irreverente da jovem dactilógrafa. Entretanto, Alan, o ganancioso namorado de Anya, troça de tudo aquilo em que o escritor acredita e conspira contra ele.
Comprovando mais uma vez o seu domínio sobre várias vozes, géneros e registos narrativos, Coetzee discute ao mesmo tempo o mundo contemporâneo e a sua representação no imaginário e na literatura.

- Jorge Edwards, O inútil da família (El inútil de la familia), Assírio & Alvim

O Inútil da Família é um extraordinário desfile de personagens, uma caixa de surpresas que nos transporta a mundos extremos e nos leva a assistir, por dentro, a um destino fora do comum, belo mas pleno de riscos e, sem dúvida, trágico.
Quando Jorge Edwards começou a escrever, em plena adolescência, num mundo que estava muito longe de o destinar à literatura, teve conhecimento de um parente próximo que ninguém referia na família, um fantasma, um marginal, um maldito da sua época: Joaquín Edwards Bello. Joaquín recebeu o Prémio Nacional de Literatura de Chile em 1943 mas a sua vida acidentada e aventureira, a sua paixão pelo jogo, o seu inconformismo e rebeldia social, naqueles anos escandalosa, já o tinham convertido numa lenda viva.Jorge Edwards seguiu apaixonadamente a história deste seu tio avô. Joaquín, o tio Joaquín, conheceu os palacetes da América e da Europa mas cedo desceu ao fundo da noite: aos bares e tabernas de má sorte, aos prostíbulos e aos albergues clandestinos. Viveu uma vida acidentada entre Madrid, Paris, Valparaíso e Santiago.Porém, descobrindo semelhanças e contiguidades, tanto de origem como de biografia, o livro acaba por construir uma teia de múltiplas relações em que as duas vidas - e as duas obras - se fundem e entrelaçam.

- Rosa Montero, Instruções para salvar o mundo (Instrucciones para salvar el mundo), Porto Editora

Uma intensa e hipnótica história de esperança que deambula entre o humor e a emoção e nos mergulha na sociedade caótica dos nossos dias. Uma história que pode ser a de qualquer um de nós.
Num cenário de subúrbio, onde a noite reclama o seu território e os fantasmas reivindicam o seu espaço, um taxista viúvo que não consegue superar a perda da mulher, um médico desiludido, uma cientista anciã e uma belíssima prostituta africana sedenta de vida cruzam os seus caminhos, para nos obsequiarem com uma visita guiada ao mundo vertiginoso e convulso que cada um encerra dentro de si.
Mas esta não é uma história de horrores, é antes uma fábula de sobreviventes, de quatro personagens que reúnem todos os elementos necessários para serem considerados uns desgraçados, que se movem nos mundos limítrofes à máfia, ao tráfico de mulheres brancas, e a universos virtuais como Second Life, mas que conseguem encontrar um apoio que lhes permite a remição e a saída das trevas que os mantinham prisioneiros.

- Elisabeth Kostova, O Historiador (The Historian)

E se Drácula continuasse vivo após 500 anos? E se Drácula fosse, além de vampiro, um historiador, dono de uma das mais espantosas bibliotecas do mundo?Estas são as premissas de O Historiador, romance-sensação da americana Elizabeth Kostova, uma daquelas leituras de férias que fazem reviver o espírito história/aventura de Indiana Jones e a fatalidade romântica de Bram Stocker.Não sendo nenhum clássico contemporâneo, mas afastando-se do vazio de inúmeros títulos que povoam as livrarias – frutos de uma recente febre de romances históricos despoletada pelo célebre Código Da Vinci – O Historiador é uma obra apelativa não só para quem se interesse pela figura de Vlad “O Empalador” como para apreciadores de livros de aventuras.Demonstrando um satisfatório trabalho de pesquisa (a autora terá demorado dez anos a concluir o livro), Kostova transmite uma série de dados curiosos obre a história medieval da Roménia e a história moderna do Leste Europeu e do Império Otomano, juntando-lhes uma pitada de história contemporânea nas partes que se desenrolam em antigas repúblicas socialistas soviéticas. Sendo um dos protagonistas historiador e outra antropóloga, o livro é enriquecido por diversas informações interessantes que são tão importantes como a vertente ficcional da trama – com fugas, segredos e enigmas, todos desvendados seguindo um caminho que Kostova tenta que se aproxime do do trabalho de investigação historiográfica.

Barbara Kingsolver, A bíblia envenenada (The Poisonwood Bible), Dom Quixote e Círculo dos Leitores

Um pregador baptista, munido da sua Bíblia e de uma vontade feroz de evangelizar, levou a mulher e quatro filhas para uma remota aldeia do Congo Belga, onde salvar as pobres almas primitivas daquelas crianças significava baptizá-las num rio infestado de crocodilos.Neste livro, a denúncia da intolerância e da ausência de comunicação, uma reflexão sobre as convicções religiosas e a relatividade do bem, a condição da mulher e o discurso no feminino, o confronto entre dois modelos de sociedade, a história da independência de África e a contínua sabotagem do estimável Ocidente. A Bíblia Envenenada, um livro que nos desperta e nos abala, um livro que nos dói, um livro que nos marca.


- Knut Hamsun, Fome (Sult), Cavalo de Ferro

A acção de Fome, um romance marcante e considerado um clássico da literatura mundial, decorre nos finais do século xix. O narrador, um jovem escritor, um homem solitário, deambula pelas ruas de Kristiania (actual Oslo) numa miséria extrema, enregelado pelo frio e tolhido pela fome. Essa miséria em que vive, provoca-lhe momentos de delírio e violentas variações de humor. Mas cedo nos apercebemos de que a “fome” desse sonhador não é apenas física. Há a procura de uma identidade e de um reconhecimento dentro das suas próprias alucinações.

Liudmila Ulítskaia, Mentiras de mulher, Relógio de Água

Mentiras de Mulher é um romance composto por várias narrativas unidas entre si por uma personagem recorrente. Na primeira, que dá o tom ao livro, surge Génia, que se deixa envolver pela história de uma mulher que encontra durante as férias na Crimeia. Génia encontrará depois outras mulheres que com ela partilham as ilusões que permitem viver a realidade.Tudo isto é feito de um modo que revela a fascinante vida interior de mulheres para quem as mentiras são, em geral, e ao contrário do que sucede nos homens, desprovidas de qualquer estratégia.Ulítskaia possui uma invulgar arte para contar histórias, para descrever vidas num estilo ao mesmo tempo mordaz e terno, deixando ao leitor o cuidado de completar os motivos dos variados quadros que compõe.

Após um empate com o livro de Flannery O'Connor, a escolha acabou por recair em: O Jogo do Anjo, de Carlos Ruiz Záfon, mais um "repetente" no nosso Clube de Leitura.

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