quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A modernidade de "Nada"

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"Lida hoje, Nada surpreende pela sua modernidade. Pela sua absoluta carência de sentimentalismo, apesar das atrocidades que relata. Pelo estilo exacto, limpo, cortante como um cristal, e ao mesmo tempo cheio de força expressiva e originalidade poética. E pelas suas personagens e temas. Inesquecível a Glória, pobre rapariga espancada barbaramente uma e outra vez pelo marido. Inesquecível a avó, que é como uma fada madrinha deteriorada e quebrada. Inesquecível a Andrea, a protagonista, passiva e quase incapaz de amar. Mas é que as verdadeiras vítimas são passivas e estão destroçadas. Com a sua elegante escrita, Carmen Laforet define na novela as amigas da tia de Andrea, um punhado de mulheres que em tempos foram raparigas felizes e que agora são seres desbaratados: "Eram como pássaros envelhecidos e escuros, com os peitos palpitantes de terem voado muito num pedaço de céu muito pequeno". Nada descreve-nos esse pequeno e asfixiante fragmento de céu. É um conto cruel, o conto da vida quando se torna má."

Rosa Montero, no Prólogo a uma edição espanhola de Nada, da colecção Las mejores novelas en castellano del siglo XX, saída com o jornal El Mundo (tradução minha)

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