domingo, 30 de março de 2008

Leituras paralelas - a Loucura


Edvard Munch, O grito

"El miedo ante el loco precede a la compasión, que a veces nunca llega. Quizá, creía él, porque intuimos que esa enfermedad forma parte de una especie de alma común y anda por ahí suelta, escogiendo uno u otro cuerpo según le cuadre. De ahí la tendencia a hacer invisible al enfermo."

Manuel Rivas, El lápiz del carpintero

Leituras paralelas - as fronteiras

"Recuerdo una cosa terrible que me dijo un hombre. Mi abuelo fue lo peor que se puede ser en la vida. ¿Qué hizo entonces, mató?, le pregunté. No, no. Mi abuelo por parte de padre fue sirviente de un portugués. Estaba borracho de bilis histórica. Pues yo, le dije para fastidiarlo, si pudiese escoger pasaporte, sería portugués. Pero por suerte esa frontera se irá difuminando en su propio absurdo. Las fronteras de verdad son aquellas que mantienen a los pobres apartados del pastel.”

Manuel Rivas, El lápiz del carpintero

Leituras paralelas - Pintar o Mar


Joseph Mallord William Turner, Slave Ship, 1840

(...) Y le enseñaba cosas. Por ejemplo, que lo más difícil de pintar era la nieve. Y el mar, y los campos. Las amplias superficies de apariencia monocolor. Los esquimales, le dijo el pintor, distinguen hasta cuarenta colores de la nieve, cuarenta clases de blancura. Por eso, los que mejor pintan el mar, los campos y la nieve son los niños. Porque la nieve puede ser verde y el campo blanquear, como las canas de un anciano campesino. (...)
Un pintor cabal, cuanto más realista quiera ser, sabe que el mar no se puede llevar a un lienzo. Hubo un pintor, un inglés, se llamaba Turner, que lo hizo muy bien. La imagen más impresionante que existe del mar es un naufragio de un barco de negreros. Allí se escucha el mar. Es el grito de los esclavos, esclavos que quizá no conociesen del mar más que el vaivén en las bodegas. A mí me gustaría pintar el mar desde dentro, pero no como un ahogado sino con escafandra. Bajar con lienzo, pinceles y todo.

Manuel Rivas, El lápiz del carpintero

quinta-feira, 27 de março de 2008

Dia Mundial do Teatro

All the world's a stage,
And all the men and women merely players;
They have their exits and their entrances,
And one man in his time plays many parts,
His acts being seven ages.

William Shakespeare, As You Like It Act 2, scene 7, 139–143

Amoz Oz, em entrevista à Euronews, sobre a sua obra, Israel e a Palestina

A entrevista começa assim: "If I had to tell you in one word what my entire literary work is about I would say "families". If you give me two I'll say "unhappy families". If you give me three words you'll have to read my works"
Não temos opção senão "atacar" o livro!

O escafandro e a borboleta



Jean-Dominique Bauby tem 43 anos, é editor da revista Elle, e um apaixonado pela vida. Mas, subitamente, tem um derrame cerebral. Vinte dias depois, ele acorda. Ainda está lúcido, mas sofre de uma rara paralisia: o único movimento que lhe resta no corpo é o do olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Aprende a se comunicar piscando letras do alfabeto, e forma palavras, frases e até parágrafos. Cria um mundo próprio, contando com aquilo que não se paralisou: sua imaginação e sua memória.
O filme é baseado no livro que Jean-Dominique Bauby dita letra a letra através do piscar do seu olho esquerdo. É um relato impressionante do que pode ser a existência de um homem encerrado dentro do seu próprio corpo mas que, ainda assim, não desiste e decide deixar o seu testemunho.
O livro parece-me também prometedor e talvez venha a ser uma proposta minha para futuras leituras...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Dia Mundial da Árvore, parte dois



Hoje recebi um postal da Nova Zelândia, da minha amiga mais andarilha. Vem três dias atrasado para o dia mundial da árvore, mas tendo em conta que veio dos antípodas, perdoamos-lhe a demora. Gosto tanto de árvores! São mesmo uns seres com uma grande dignidade! Obrigada, querida amiga, pelo abraço que deste por mim a esta em particular. Um dia lá irei dá-lo também em pessoa.

sexta-feira, 21 de março de 2008




Uma Páscoa muito Feliz!


Dia 21 de Março - Dia Mundial da Árvore


Árvore

Forço e quero ao fundo delicadamente
Como subindo no sentido da seiva
Espraiar-me nas folhas verdejantes,
Espaçado vento repousando em taças,
Mão que se alarga e espalma em verde lava,
Tronco em movimento enraizado,
Surto da terra, habitante do ar,
Flexíveis palmas, movimentos, haustos,
Verde unidade quase silenciosa.

António Ramos Rosa


Dia 21 de Março - Dia Mundial da Poesia

A leitora

A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.

Ela adere à matéria porosa, à matéria do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,

branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.


António Ramos Rosa

segunda-feira, 17 de março de 2008

História recente da cidade de Jerusalém

Para ajudar a entender os meandros históricos da nossa actual leitura, procurei na Wikipedia uma história resumida da Jerusalém do século passado. Está lá muita informação igualmente interessante, mas aqui segue o capítulo sobre a história contemporânea:

Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, o general britânico Edmund Allenby tomou a cidade aos Otomanos. Os britânicos tornaram-se administradores da Palestina (termo que na altura se referia a uma área que é hoje ocupada por Israel, Faixa de Gaza, Cisjordânia e reino da Jordânia), de acordo com o mandato atribuído pela Liga das Nações e que terminou em 1948. A cidade de Jerusalém foi durante este período a capital deste território.
Entretanto, os conflitos entre os árabes e sionistas rebentam na década de vinte. Após o fim da Segunda Guerra Mundial alguns militantes sionistas iniciaram uma série de ataques bombistas contra os britânicos, entre os quais o ataque dos membros do Irgun ao hotel King David em 1946, que na época servia temporariamente como sede do poder britânico.
Em 1947 as Nações Unidas estabeleceram um plano que visava dividir a Palestina em dois estados, um judeu e um árabe. O plano previa que Jerusalém fosse uma cidade administrada pela comunidade internacional, com o estatuto de corpum separatum (em latim, "corpo separado"), sendo governada por um administrador designado pela ONU. Durante a primeira guerra entre o novo estado de Israel e os árabes, a cidade de Jerusalém foi um dos palcos do conflito. As forças da Jordânia entram em Jerusalém e tomam a zona oriental (onde se situam os locais sagrados), enquanto que as forças de Israel tomaram a zona ocidental, que tinham crescido durante a administração britânica e onde se situava o centro económico e as novas zonas residenciais. O armistício assinado entre Israel e a Jordânia a 3 de Abril de 1949 reconhecia a soberania de cada parte sobre as zonas conquistadas durante o conflito. Em 1950 Israel fez de Jerusalém a sua capital.
Durante a Guerra dos Seis Dias, em Junho de 1967, as forças israelitas tomam a zona oriental aos jordanos e a Knesset decreta a reunificação da cidade. Em 1980 uma lei da Knesset declara que Jerusalém é a "capital eterna de Israel", mas o Conselho de Segurança das Nações Unidas não reconhece esta lei (resolução 478).
Durante a primeira Intifada (1987-1993), a tensão entra a comunidade judaica e a comunidade muçulmana cresceu, e no ano de 1990 estalaram confrontos particularmente violentos entre o exército israelita e as forças contestárias.
O acordo de paz de 1993 levaria ao aparecimento na cidade de algumas instituições políticas e culturais ligadas aos palestinianos, ao mesmo tempo que cresciam novas zonas residenciais judias ao sul e ao norte. Em Setembro de 1996 surgem novos conflitos entre os palestinianos e o exército israelita, alegadamente motivados pela construção de um túnel entre o Muro das Lamentações e a Via Dolorosa, que os palestinianos argumentavam colocar em risco as mesquitas sagradas de Al-Aqsa e a Cúpula da Rocha.
No ano 2000, o papa João Paulo II deslocou-se a Jerusalém, tendo visitado os locais sagrados do cristianismo e uma mesquita. O papa aproveitou a ocasião para reafirmar o pedido de desculpas pelo passado antisemita da Igreja Católica, tendo realizado uma oração no Muro das Lamentações. Em Outubro do mesmo ano a violência entre israelitas e palestinianos regressou, sob protexto da visita do político israelita Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas, que terá sido o motivo para o início da segunda Intifada.
O estatuto definitivo de Jerusalém é um dos pontos mais delicados do conflito israelo-palestianiano. A Autoridade Nacional Palestiniana aspira fazer de Jerusalém Oriental a capital de um futuro estado independente palestiniano, mas ao mesmo tempo Israel não abdica da sua soberania em Jerusalém.

terça-feira, 11 de março de 2008

sábado, 8 de março de 2008

Dia Internacional da Mulher (2)

Biografia

Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-me na luz, no mar, no vento.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar

Dia Internacional da Mulher (1)


Paula Rego, Dancing Ostriches

sexta-feira, 7 de março de 2008

Propostas de leitura para este mês

Foram as seguintes:

The Gathering / Corpo Presente, de Anne Enright

A rapariga que roubava livros, de Markus Zusak

Uma História de Amor e Trevas, de Amos Oz

O prazer de Eliza Lynch, de Anne Enright

Património, de Philip Roth

Pânico no Scala, de Dino Buzzati


Para desespero de algumas leitoras, que esperavam um livro mais pequeno, ganhou Uma História de Amor e Trevas, de Amos Oz. Boa leitura!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Um comentário pessoal a Gente Independente

Gostei mesmo muito de Gente Independente… Eu sei que é duro, por vezes mesmo brutal, na forma como retrata aquelas gentes camponesas da Islândia, mas nunca perde a poesia, nem mesmo o sentido de humor. O livro conta a história de um camponês, desde o momento em que finalmente consegue comprar uma fazenda, após muitos anos a trabalhar para terceiros, até ao tempo em que a perde, em parte devido à sua própria obstinação, e é forçado a começar de novo. Ao longo do período de cerca de vinte anos ele perde duas mulheres, vários filhos (uns para a morte, outros para a emigração), as suas ovelhas (e esta perda não é inferior para esta personagem às anteriores mencionadas), as vacas, o amor da sua vida.
A sua principal característica é um incomensurável amor à independência, que valoriza acima de tudo o resto, incluindo o seu bem-estar e o da sua família. E ainda que possa ser enervante, e por vezes mesmo execrável, há algo nele que me agrada imenso: a sua resiliência, a sua atitude perante as adversidades. Esta personagem acredita que não vale a pena chorar alguma coisa que se tenha perdido. Enquanto houver um último fôlego dentro de cada um de nós, a única direcção para onde olhar é para a frente. Toda a história é uma importante lição em como não tomar as coisas como garantidas.
Vivemos numa sociedade onde o mais importante é “alcançar” objectivos e adquirir coisas. Mas custa-nos muito lidar com a perda de algo que considerávamos nosso para sempre, uma vez “adquirido”. Passamos toda a nossa vida tentando “chegar” a algum lado, e angustiamo-nos tentando manter aquilo que fomos arrecadando ao longo da vida. Esquecemo-nos de viver. Esta projecção para os nossos objectivos futuros, combinada com a nostalgia daquilo que tivemos um dia, incapacita-nos para viver o presente.
A mesma voracidade de “adquirir” está presente na forma como a maior parte das pessoas viaja (e não me vou colocar de fora, pois acabo, na maior parte das vezes, por fazer a mesmíssima coisa que critico aqui). Fazemos listas de tudo o que queremos ver e queremos fazer lá fora e, uma vez nos nossos destinos, tudo o que fazemos é ir riscando os vários itens da nossa lista. Consideramos as nossas viagens tão mais bem sucedidas quanto mais conseguimos fazer e ver daquilo que nos propusemos ainda antes de embarcarmos na viagem. A mentalidade do “been there, done it” impede-nos de realmente apreciar o que fazemos, uma, duas, três, e de cada vez que as fazemos. Não há um limite de vezes para apreciar, por exemplo, um pôr-do-sol sobre o oceano, um passeio ao longo do Sena em Paris, o verde do campo na Inglaterra, a beleza de um quadro do Klimt num museu de Viena. Tal como relemos sempre com o mesmo prazer um poema especial de Fernando Pessoa, ou ouvimos uma, outra e as vezes que nos apetecer uma música que nos entrou no ouvido.
E, no entanto, quando viajamos, procuramos sempre o que é novo, aquilo que nunca vimos, procuramos acrescentar mais um item à nossa lista de experiências, de conhecimento. Esquecemo-nos que o principal é retirar prazer do processo e deixarmo-nos surpreender por aquilo / aqueles que encontramos. Claro que as viagens sempre foram vistas como metáforas da vida, daí a importância colocada pelo Taoísmo no caminho por ele próprio, em oposição ao local onde nos leva. Estou, obviamente, já longe de Laxness, e longe de mim propor uma leitura taoista da obra deste autor. Mas é normal em mim ser transportada para outras paragens quando leio um livro, ou vejo um filme, ou o que quer que seja… Agora mal posso esperar por embarcar numa viagem a Israel!

terça-feira, 4 de março de 2008

Resiliência

Sempre fui da opinião, disse ele, que uma pessoa nunca deve desistir enquanto for viva, mesmo que nos tenham tirado tudo. Uma pessoa tem sempre o fôlego que paira dentro de si, ou pelo menos pode ser-nos emprestado. Sim, minha pequena, esta noite comi pão roubado e deixei o meu filho em companhia de homens que tencionam dar uma sova às autoridades, por isso achei por bem vir à tua procura hoje de manhã.

Hálldor Laxness, Gente Independente, p. 474

Dois seres humanos

E ela olha para ele com o coração palpitante sabendo que está a falar de um assunto sério, ainda que tenha difuculdade em entendê-lo, dois seres humanos têm tanta dificultade em se entenderem, nada é tão trágico como dois seres humanos.

Hálldor Laxness, Gente Independente, p. 304

O sonho

Mas dentro de cada quinta habita um sonho sobre algo melhor, e durante mil anos homens imaginaram que conseguiriam sair da crise de um modo misterioso e seriam proprietários duma herdade e se tornariam grandes agricultores, é este o eterno sonho. Alguns crêem que só se realizará no céu.

Hálldor Laxness, Gente Independente, p. 19

segunda-feira, 3 de março de 2008

Spa de Letras




Como já vem sendo tradição, o nosso "Spa de Letras" proporcionou um fim-de-semana fantástico a todas as leitoras. O Parque Thalasso provou ser um inimigo mortal do stress acumulado, as massagens e outros tratamentos ajudaram-nos a relaxar ainda mais, e os magnificos pequeno-almoço e jantar arruinaram qualquer hipótese de se perder algum quilito mais incauto. Para a história do clube de leitura fica ainda a primeira discussão/festa de pijama. Fica a recordação da vista dos nossos quartos.

sábado, 1 de março de 2008

A Islândia da A. e Gente Independente

Quase em cima da nossa discussão do livro, aqui vos deixo mais um pouco de Islândia. Desta vez são fotos da minha amiga A. que me enviou as que mais lhe fizeram lembrar "Gente Independente". Espero que gostem.



Esta podia ser a casa de Bjartur




E esta a charneca



E esta a bruxa ou um Troll



O ribeiro










Obrigada, A., são lindas!